Título: Lula diz que não teme investigação do mensalão
Autor: Jorge Bastos Moreno e Ninfa Freire
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O País, p. 10

A líderes ruralistas, presidente pede que Congresso não pare

BRASÍLIA. Durante encontro com líderes rurais no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem diversas vezes que não teme o funcionamento de qualquer CPI e pediu que o Congresso não paralise as votações devido às investigações das denúncias de corrupção e do pagamento de mesadas para parlamentares. O presidente se mostrou confiante em relação aos rumos da economia.

- O presidente disse que, se o Congresso tiver que fazer quantas (CPIs) forem necessárias, que faça. Mas sinalizou que o Brasil gostaria de ver o Congresso trabalhando. Ele disse que o Congresso não pode ficar sem votar - disse o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Carlos Sperotto.

Na reunião com os ruralistas, Lula também teria dito que agiu certo no momento em que ouviu boatos sobre o pagamento de mesada a parlamentares.

- Não podia ter tomado outra atitude, porque não havia nomes, só boatos - disse Lula, segundo os ruralistas.

O presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo, disse que, em audiência com ele, Lula demonstrou tranquilidade:

- Ele falou de viva voz: quantas CPIs se fizerem necessárias terão meu apoio. Repito as palavras dele.

"Esta não é hora depensar em reeleição"

Em conversas reservadas nos últimos dias, Lula deixou claro que, se for necessário, sacrifica o seu projeto de reeleição. A avaliação do presidente é de que está na hora de enfrentar a crise política mesmo que isso provoque um forte desgaste à imagem do governo.

- Esta não é hora de pensar em reeleição - disse Lula numa reunião com ministros no início desta semana.

Para Lula, o governo não pode ficar refém da oposição e por isso deve assumir o comando das investigações. Com ministros e auxiliares que estiveram em seu gabinete, o presidente argumentou que não poderá se prender ao projeto da reeleição e, em nome disso, impedir que tudo e todos sejam investigados. Ele tem dito que nunca pôs a reeleição acima de tudo e que não faria isso agora.

- Na crise política, a primeira coisa com que precisamos nos preocupar é com a governabilidade. Reeleição não pode ser uma prioridade. Temos que recuperar a articulação política e administrativa, reorganizar a casa e recompor a base. A CPI precisa ser alvo de atenção do governo. Não agindo desta forma, estamos condenados em 2006 - observou o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS).