Título: PF espera autorização para iniciar investigação
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O País, p. 13

Lacerda diz que policiais poderão apurar denúncias sobre mensalão se o Supremo ou o Congresso derem aval

BRASÍLIA. O diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, afirmou ontem que a PF está pronta para investigar as denúncias de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagou mesadas de R$30 mil para deputados do PP e do PL, partidos da base do governo no Congresso. Mas, como se trata de uma apuração sobre parlamentares, a Polícia Federal só pode entrar em ação a partir de um pedido do Congresso ou com uma autorização expressa do Supremo Tribunal Federal (STF). As acusações sobre o suposto mensalão foram feitas pelo presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).

- A PF está à disposição (do Congresso e do STF) para adotar todas as providências necessárias - afirmou Lacerda.

O diretor negou que a PF tenha investigado o caso informalmente. Como gozam de foro privilegiado, parlamentares só podem ser investigados com autorização do STF ou do Congresso.

PF já investiga servidores indicados pelo PTB

O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, deverá decidir na próxima semana se pede ou não ao STF a abertura de inquérito sobre o mensalão. A PF já está investigando o envolvimento de servidores indicados pelo PTB com um suposto esquema de fraudes nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

Na análise do material apreendido na primeira fase da apuração, a PF descobriu diversos recados do empresário Haroldo Cláudio Merschner, dono da Precision Componentes, para o ex-chefe do departamento de Contratação dos Correios Maurício Marinho. Em reportagem do GLOBO de domingo, o empresário disse que Marinho pediu R$350 mil para deixar de multar a Precision em quase R$900 mil, que atrasara a entrega de uma encomenda de caixetas.

O pedido teria sido intermediado pelo consultor da diretoria de Operações dos Correios Júlio Imoto, num encontro numa churrascaria em São Paulo. Imoto confirmou o encontro, mas negou que tenha cobrado propina.

Alguns empresários também já confirmaram à PF que Marinho sugeriu a combinação de preços numa licitação para a compra de tênis, conforme divulgou o GLOBO há duas semanas.

A situação do ex-assessor da diretoria de Administração dos Correios Fernando Godoy também está cada vez mais complicada. As secretárias Cibele Augusta Ribeiro e Vanda Pereira do Nascimento confirmaram na terça-feira, em depoimento à PF, o sumiço da agenda de trabalho de Godoy, entre os dias 13 e 16 de maio, data em que vieram a público as denúncias sobre o suposto esquema de fraudes em licitações. Vanda disse que deixou a agenda sobre a mesa na sexta-feira pouco antes do fim do expediente. Na segunda-feira, quando Cibele chegou ao trabalho, a agenda tinha desaparecido. A polícia tem registro de que Godoy esteve nos Correios no sábado, dia 14, por quatro horas.

Envolvimento com destruição de provas

A PF investiga o suposto envolvimento de Godoy com a destruição de provas, como as fitas de vídeo em que estariam registradas imagens dos dois supostos empresários que teriam subornado Marinho. Marinho e Godoy já foram indiciados por corrupção e fraude a licitação. Antônio Perilo, advogado de Godoy, disse que o cliente vai pagar cerca de R$50 mil à Receita Federal até amanhã. A dívida é relativa a multas por impostos não pagos. Godoy admitiu à PF que deixou de declarar à Receita Federal recursos obtidos com corretagem de imóveis. A PF está investigando sua evolução patrimonial.

Amanhã, a PF voltará a interrogar o ex-presidente do IRB, Lídio Duarte, que teria deixado a estatal depois de se negar a pagar uma mesada de R$400 mil ao PTB. Ele será interrogado por carta precatória e corre o risco de ser indiciado por falso testemunho. Duarte teria mentido na PF semana passada ao declarar que nunca fizera a denúncia.

Legenda da foto: PAULO LACERDA: "A Polícia Federal está à disposição para adotar todas as providências necessárias"