Título: UM PAÍS DE CONTRASTES PROFUNDOS
Autor: Ramona Ordoñez e Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O Mundo, p. 38
Bolívia é dividida entre zona andina e terras baixas, e indígenas e europeus
Geograficamente, um território dividido em zona andina e terras baixas. Etnicamente, uma população de índios de um lado, e descendentes de europeus e mestiços do outro. Economicamente, um país com uma imensa maioria de remediados, pobres e miseráveis oposta a uma minoria bem de vida. Uma só nação, mas várias Bolívias.
Disputando com a Guiana o amargo título de país mais pobre da América do Sul, a Bolívia é uma terra de contrastes. O mais evidente deles é a oposição entre os primeiros habitantes indígenas, a maioria quéchuas e aimaras, e os criollos, descendentes dos colonizadores europeus. Concentrados na zona andina, os indígenas - segundo o Censo de 2001, eles são metade do país - formam a imensa maioria dos 5,2 milhões de pobres e miseráveis que correspondem a 58,6% da população boliviana. De acordo com o Centro de Estudos Aimaras, 80% dos indígenas vivem na extrema pobreza e 20% na pobreza.
- Não há trabalho e mesmo quem tem emprego ou um emprego um pouco melhor ganha pouco. A maioria só come uma vez por dia. As pessoas já não agüentam mais - disse ao GLOBO, de La Paz, o diretor de Direitos Humanos do centro, Ramón Conde Mamani.
Do outro lado do fosso estatístico, apenas 41,4% dos bolivianos escapam da pobreza, a grande maioria de origem européia.
"Autonomia é para preservar privilégios"
Os números da pobreza por vezes cruzam com os da geografia, dando origem a uma outra Bolívia. Grupos dos quatro departamentos das chamadas terras baixas - Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando - formaram comitês para exigir autonomia do governo central. Santa Cruz e Tarija concentram 80% da produção de petróleo e gás e uma parte considerável do PIB boliviano: somente 38% dos habitantes de Santa Cruz e 50,8% dos de Tarija são pobres, um bom desempenho dada a média nacional. Santa Cruz de la Sierra, locomotiva econômica do país, é uma cidade onde a população é predominantemente descendente de europeus.
- Mas essa oposição entre a zona andina e as terras baixas ocorre apenas entre as elites econômicas porque entre a maioria pobre e os indígenas não há divisão - explicou de Cochabamba o diretor-executivo do Centro de Documentação e Informação Bolívia, Marco Gandarillas. - As oligarquias querem autonomia para preservar seus privilégios.