Título: NA CRISE PÓS-REFERENDO, POPULARIDADE DE CHIRAC ATINGE SEU NÍVEL MAIS BAIXO
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 39

Em sua primeira prova como premier, Villepin aprova plano contra desemprego

PARIS. O "não" dos franceses no referendo que rejeitou a Constituição européia - lançando a Europa numa crise - não pára de provocar efeitos na França. Duas pesquisas de opinião, esta semana, revelaram que o presidente Jacques Chirac atingiu o fundo do poço: teve uma queda de popularidade de 16 pontos, segundo o Instituto Louis Harris, passando de 42% a 26% de aceitação. É o nível mais baixo para um presidente francês desde o começo da 5ª República.

"Uma queda desta magnitude não tem equivalente", disse o cientista político Pierre Giacometti ao jornal conservador "Le Figaro".

O comando da França parece desorientado. Chirac prometeu um "novo impulso" e mudou o governo, substituindo o ex-premier Jean-Pierre Raffarin por Dominique de Villepin. Mas a mudança - que, na realidade, não mudou quase nada, pois Chirac manteve a maior parte dos personagens do governo anterior, trocando apenas o lugar de cada um - também foi mal digerida pela população.

Maioria dos franceses está pessimista quanto à política

Villepin passou ontem por sua primeira prova de fogo no Parlamento, ao apresentar seu plano para o combate ao desemprego, e ganhou moção de confiança da Assembléia Nacional (Câmara dos Deputados). Mas uma sondagem divulgada ontem revelou que 65% dos franceses estão pessimistas em relação à evolução da situação política do país nos próximos seis meses.

A tensão é grande com os sindicatos. Horas depois de Villepin anunciar o plano para consagrar 4,5 bilhões de euros adicionais à política de emprego, um dos maiores sindicatos do país, CGT, convocou manifestações em toda a França para o dia 21. As medidas anunciadas incentivam pequenas empresas a contratarem, mas, segundo sindicalistas, não dão garantias sociais aos assalariados.

A situação na União Européia não parece ser melhor. Após as derrotas nos referendos de França e Holanda, a Presidência do bloco advertiu ontem para o risco de uma paralisação se a reunião marcada para 16 e 17 de junho não conseguir um acordo sobre o orçamento comunitário para o período 2007-2013.

- A UE não deve deslizar para uma incerteza permanente, para o imobilismo ou pior para a paralisação - advertiu, em Estrasburgo, Nicolas Schmit, ministro do Exterior de Luxemburgo, país que exerce a Presidência rotativa do bloco.