Título: PT QUER INVESTIGAR OITO ANOS ATRÁS
Autor: Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 10/06/2005, O País, p. 3

Base pede CPI na Câmara para apurar reeleição e também mensalão

BRASÍLIA. A base governista, com o PT à frente, partiu para o ataque à oposição e formalizou ontem pedido de outra CPI, exclusiva da Câmara, para investigar as denúncias de pagamento de mesada aos deputados do PP e PL, mas também acusações de compra de votos para aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997.

Líderes do governo admitiram que a estratégia é tentar empatar o jogo, já que, para eles, os tucanos agem para tentar desgastar o governo do PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A declaração do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de que Lula não é Collor, foi vista como uma forma de, no fundo, fazer a vinculação . E as declarações do governador de Goiás, Marconi Perillo, incriminando Lula no caso do mensalão, também foram mal recebidas. Os governistas conseguiram em dois dias 200 assinaturas e o requerimento foi protocolado na Mesa no momento da instalação da CPI Mista dos Correios.

- Se fosse estratégia só do PT seria uma loucura. Mas vocês acham que a declaração de Aécio foi boa para Lula? Lógico que não, o que houve foi a vinculação direta com Collor. Uma pessoa diz: 'Sua mãe não é dona do puteiro, mas então por que o nome dela na frase?' - reagiu o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), explicando a indignação do governo com ataques dos tucanos ao governo.

Os petistas tiveram trabalho para convencer PL e PP de que a melhor saída seria se antecipar e fazer a CPI da Câmara, e não a mista, como estavam fazendo PPS, PV e PDT.

- Queríamos um texto que cobrisse tudo - disse o líder do PL, Sandro Mabel (GO).

Na visão dos petistas, está claro que o PSDB não quer o impeachment de Lula, mas está gostando de seu desgaste.

Deputado do PP foi flagrado em gravação em 1997

A CPI do Mensalão da Câmara quer investigar o escândalo da compra de votos, em 1997, quando o deputado Ronivon Santiago (PP-RO) foi flagrado em uma gravação dizendo estar negociando a compra de votos de parlamentares por R$200 mil para aprovar a emenda. Não houve CPI na época, mas foi aberta uma comissão de sindicância.

- É uma atitude infantil. As CPIs são feitas para resolver problemas que o país está vivendo. Levantar questões de décadas atrás não vai ajudar. Foi revanchismo, mas não nos negamos a assinar nem a investigar - respondeu o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).

Como a Câmara tem uma fila de CPIs já criadas para serem instaladas, os autores do requerimento apresentaram um projeto de decreto legislativo para que a pedida ontem passe na frente das outras. O projeto tem de ser aprovado no plenário.

SINDICÂNCIA INVESTIGOU EM 97

A emenda que permite a reeleição de presidente, governadores e prefeitos foi aprovada em definitivo pelo Senado em junho de 1997. A votação na Câmara, um mês antes, aconteceu em meio a uma crise política no governo do então presidente Fernando Henrique provocada por denúncias de compra de votos, baseadas na gravação de uma reunião entre os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, com o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta (morto em 1998), e os ex-governadores Amazonino Mendes (AM) e Orleir Cameli (AC). Outros três deputados também foram acusados de receber R$200 mil para aprovar a emenda da reeleição: Osmir Lima e Zila Bezerra, do PFL do Acre, e Chicão Brígido, do PMDB do Acre. A oposição tentou mas não conseguiu a CPI da Reeleição.

Uma comissão de sindicância investigou o caso, levando Ronivon e Maia a renunciarem para escapar de possível punição. Os outros acusados foram inocentados em 1998. Ronivon depois foi novamente eleito em 2002 pelo PP, mas cassado em julho de 2003 pelo TRE por crime eleitoral. Até hoje, porém, continua na Câmara. Sua saída depende do correligionário Severino Cavalcanti, presidente da Casa.