Título: Genoino reafirma aliança entre o PT e o PTB
Autor: Soraya Aggege e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 10/06/2005, O País, p. 8

Para impedir declarações que provoquem novas denúncias de Jefferson, lei do silêncio é imposta a petistas

SÃO PAULO. O presidente do PT, José Genoino, reafirmou ontem a aliança com os petebistas e se negou a explicar a suposta chantagem que o partido, o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estariam sofrendo. A chantagem foi denunciada anteontem pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, alvo das acusações do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).

Ontem, somente Genoino falou pelo PT. A estratégia é tentar reduzir danos à imagem do partido, impondo a lei do silêncio ao primeiro escalão petista, para evitar "pronunciamentos embaraçosos" e impedir que qualquer declaração possa ser interpretada como provocação a Jefferson, que tem dito, em conversas reservadas, estar pronto para lançar novas bombas no telhado do PT. As novas ameaças, entretanto, não abalaram a determinação do petista de manter a aliança com o PTB.

- Para nós, essa aliança foi fundamental e é importante para a governabilidade e a execução do programa de mudanças do presidente Lula. Temos que consolidar a maioria absoluta na Câmara e defendemos a manutenção desse acordo - afirmou Genoino.

O presidente do PT argumentou que um dos objetivos da manutenção da aliança é garantir a democracia:

- Para governar com democracia é preciso ter maioria.

Genoino voltou a desautorizar o ministro das Cidades, Olívio Dutra, que, no início da semana, atribuíra a crise ao fato de o governo Lula "andar em más companhias".

- A opinião do ministro Olívio Dutra é uma opinião individual. Nós queremos é melhorar a política de alianças com os aliados - disse Genoino.

Segundo Genoino, é indiferente para o PT a substituição de Jefferson na presidência do PTB:

- Isso é assunto do PTB. A relação do PT com o PTB tem sido uma relação correta.

Carta branca para participação em CPI

A direção do PT também recuou das posições sobre as investigações no Congresso. Depois de ameaçar punir os parlamentares que foram favoráveis à CPI dos Correios, Genoino ontem deu carta branca a deputados e senadores para articularem a participação petista também na CPI do Mensalão. As bancadas foram liberadas para negociar as participações do partido com a base.

- Com relação à CPI dos Correios e à do Mensalão, a direção do PT está em sintonia com as bancadas na Câmara e no Senado. Vou acompanhar isso de comum acordo com os partidos aliados e a bancada do PT - disse Genoino.

Genoino contou ontem que já conversou com o presidente após as denúncias de Jefferson. Mas tentou deixar claro que Delúbio não foi citado na conversa:

- Conversamos sobre tudo. Menos sobre isso. Este assunto é de responsabilidade do PT.

Quando foi perguntado se Lula conversou com Delúbio, Genoino se irritou:

- Não sou porta-voz do presidente nem de Delúbio.

Genoino também se negou a responder a questões relativas às declarações de Delúbio de que Jefferson estaria chantageando o PT, o governo e o Congresso:

- Não vou repercutir a entrevista de ontem (anteontem). Também não vou falar das declarações do Delúbio.

Delúbio continua recebendo proteção do partido. Acompanhado por batedores, o petista chegou ontem à sede do partido por volta do meio-dia e não atendeu os jornalistas. A correligionários, até mesmo ao secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, tem confidenciado que gostaria de falar sobre a crise, mas optou pelo silêncio em respeito à decisão da diretoria.

A lei do silêncio imposta aos dirigentes petistas, deixando para Genoino a tarefa de falar em nome de todos, foi determinada na reunião da executiva nacional, anteontem. O sentimento geral era o de que não seria o momento de "cutucar onça com vara curta", numa referência ao presidente do PTB. Os petistas entendem que, acuado, Jefferson poderia partir para o "tudo ou nada", sem medir conseqüências. Dirigentes do PTB dizem que Jefferson teria em mãos fitas com gravações de conversas de líderes do PT e ministros do governo Lula.

- Diante de uma crise instalada, qualquer coisa que se fale agora pode ser interpretada como mais lenha na fogueira. É hora de se precaver. De fazer valer uma política de diminuição de danos - disse um dirigente do PT estadual, com trânsito livre no diretório nacional.