Título: G-4 QUER ACABAR COM O PODER DE VETO NA ONU
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 10/06/2005, O Mundo, p. 32

Proposta dos candidatos a membros permanentes do Conselho de Segurança é derrubar prerrogativa em 15 anos

BRASÍLIA. Depois de renunciarem anteontem ao direito de veto, Brasil, Japão, Índia e Alemanha - candidatos a membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas - pretendem trabalhar para derrubar, num segundo momento, esse mesmo direito usufruído pelos atuais integrantes permanentes: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França.

Foi o que deixou claro, ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Segundo o chanceler, o governo brasileiro já havia anunciado, há algum tempo, que não fazia questão do veto. O interesse do Brasil, que considera um privilégio injustificável esse direito, é fazer parte do time de permanentes.

'Infelizmente, a realidade não é a ideal', diz ministro

Atualmente, os brasileiros são membros rotativos e têm mandato de dois anos no conselho. Como essa visão coincidia com a posição dos demais candidatos do G-4, o grupo decidiu apresentar uma emenda à sua proposta de reformulação do organismo, renunciando ao privilégio pelos próximos 15 anos. Só que, na verdade, depois desse período, a idéia não é reivindicar o direito de veto, e sim lutar por sua eliminação.

- Às vezes, temos de lidar com a realidade e outras vezes com ideais. Infelizmente, a realidade nem sempre é a ideal. O ideal seria uma igualdade absoluta entre os atuais membros permanentes do Conselho de Segurança. O ideal seria até que não houvesse veto. Queremos uma reforma que seja viável. Não estamos fazendo uma revolução, e sim uma reforma, que tem presente em si o princípio do gradualismo - afirmou Amorim.

De acordo com o chanceler, o Brasil está negociando com vários países-membros da ONU o apoio à proposta do G-4, inclusive com as nações que mais resistem à proposta de reforma do Conselho de Segurança.

- Muitos não gostam de falar, não querem falar, mas na hora de votar, vão apoiar a idéia do G-4. Isso me foi dito: "Nós não podemos garantir, não podemos antecipar ou patrocinar, mas na hora votaremos com vocês" - disse Amorim.

Os outros membros do G-4 também articulam para que a reforma seja feita o mais rapidamente possível, de preferência até o final deste mês.

- Todos sabemos que as reformas precisam ser feitas imediatamente. Se não conseguirmos a aprovação até setembro, ela não acontecerá - disse um diplomata alemão que preferiu não se identificar.

Para ser posto em prática, o projeto de reforma precisa ser aprovado por pelo menos dois terços da assembléia-geral, que tem 191 membros. A proposta conta com o apoio do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que também acha que ela deve ser aprovada antes de setembro, mês de comemoração dos 60 anos da ONU.

- O aniversário da ONU é o período propício para essas mudanças. Após isso fica mais complicado - avaliou.

Com agências internacionais