Título: MP investiga participação de amigo de Lula na gravação de fitas da ECT
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 11/06/2005, O País, p. 4
Dono da Novadata teria o objetivo de afastar Maurício Marinho do cargo
BRASÍLIA. O Ministério Público Federal está investigando o suposto envolvimento do empresário Mauro Dutra, dono da empresa de informática Novadata e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a gravação do flagrante de corrupção que detonou a crise política que embaraça o governo federal.
Uma das linhas de apuração indica que a trama para flagrar as cenas de corrupção explícita de Maurício Marinho teria o objetivo de afastá-lo do posto, já que o burocrata estaria contrariando interesses da Novadata nos Correios. Segundo investigadores, Mauro Dutra pretendia mostrar a amigos do PT as peripécias que Marinho, homem do PTB, estava fazendo na chefia de compras dos Correios. Ele só não contava que a gravação, logo em seguida, cairia como uma bomba e abriria a maior crise desde o começo do governo do amigo Lula.
A suspeita avança em relação ao que havia sido divulgado até agora sobre o esquema montado para gravar Marinho. Na quinta-feira, quando prendeu quatro homens acusados de montar o flagrante, a Polícia Federal apontou o ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) José Santos Fortuna como o contratante da gravação.
Novadata perdeu negócios por causa de Marinho
O Ministério Público, porém, acredita que há outras pessoas por trás dele. A própria Agência Brasileira de Inteligência (Abin) admite estar investigando "um grupo de empresários de São Paulo" que teria encomendado a gravação.
A possível participação de Mauro Dutra nas gravações tem um pano de fundo comercial: a Novadata, uma das maiores fornecedoras de equipamentos de informática do governo federal, perdeu alguns negócios nos Correios por interferência direta de Maurício Marinho.
Pela linha de investigação em curso no Ministério Público, Fortuna teria trabalhado para a Novadata. Por enquanto, os investigadores esbarram numa dúvida: estão tentando entender por que Fortuna e seu companheiro Arlindo Molina teriam tentado negociar a fita com o presidente do PTB, Roberto Jefferson.
Suspeita-se de que a pessoa que encomendou o vídeo acabou perdendo o controle do processo. Os arapongas teriam visto na gravação uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, disse uma fonte ligada à investigação.
MP levantou três encontros de agentes com Jefferson
O Ministério Público mapeou três encontros de Fortuna e Molina com Roberto Jefferson dentro da Câmara dos Deputados. Os procuradores têm registros de imagens dos dois caminhando em direção ao gabinete de Jefferson em datas compatíveis com a narrativa do próprio deputado.
Em discurso, o presidente do PTB disse ter sido alvo de tentativa de extorsão. Fortuna esteve com o deputado nos dias 2 e 10 de março. Já Molina foi ao gabinete do deputado petebista em 3 de maio.
A assessoria da Novadata foi procurada ontem, mas não retornou as ligações.
Legenda da foto: MAURO DUTRA: o empresário estaria insatisfeito com Marinho