Título: Dirceu tem dito que pretende deixar o governo
Autor: Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 11/06/2005, O País, p. 5

Magoado com a falta de apoio, ministro contou a aliados que planeja voltar à Câmara para fazer sua defesa e defender o PT

BRASÍLIA. Com o agravamento da crise política, as pressões por sua saída numa reforma ministerial e a ação da oposição para tentar envolvê-lo nas denúncias de corrupção, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, desabafou ontem a amigos e aliados que está disposto a deixar o governo. E que deverá disputar a eleição de deputado ano que vem, diferentemente do que já havia decidido, para fazer sua defesa e defender o PT. O ministro não esconde o nervosismo e a mágoa com a falta de apoio:

- Fui atacado. Não quero atrapalhar o governo, mas tenho que defender meu mandato e o partido. O PT tem que ser priorizado - disse ontem a um petista.

Quem conversou com Dirceu nos últimos dois dias ficou assustado com o abatimento demonstrado por ele. Na avaliação do ministro, há um movimento claro para tentar desestabilizar e desacreditar o PT. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito avaliação semelhante. E, segundo assessores, não achará ruim caso Dirceu peça demissão.

Em conversas mais reservadas, Lula tem dito que a presença de Dirceu na Casa Civil leva a crise para o Planalto. A amigos e auxiliares, o presidente manifestou seu incômodo com o fato de Dirceu e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, terem virado fonte permanente de desgaste. Mas Lula e Dirceu devem construir uma saída negociada.

Saída levaria a reforma ampla

Isso poderia ser o pontapé da reforma ministerial mais ampla que Lula quer fazer para mostrar ação do governo diante da crise. Podem sair também o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá, ambos denunciados pelo Ministério Publico e investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Também estão em situação crítica os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política), Olívio Dutra (Cidades) e Humberto Costa (Saúde).

O governo teme uma associação mais explícita daqui para frente entre Dirceu, Delúbio e o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. O Planalto percebeu na oposição um discurso eficiente para colar no chefe da Casa Civil a paternidade das ações de Waldomiro, e de Delúbio.

- Delúbio começa a surgir na ação parlamentar com a queda de Waldomiro. Em comum ambos têm a ligação com Dirceu - diz o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), integrante da CPI dos Correios.

O próprio Dirceu notou que virou alvo. Antes da crise, ele tinha decidido ficar no governo e não disputar um mandato para coordenar a reeleição de Lula. Mas, agora, já fala em coordenar a campanha de 2006 do PT e de Lula fora do Planalto.

Lula tem dito que não terá outra alternativa além de aprofundar as mudanças iniciadas com a demissão da diretoria dos Correios e do Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB). Aproveitaria para promover um enxugamento do número de ministérios. O presidente só não sabe ainda se deve fazer já essa reforma ou se aguarda os primeiros passos da CPI dos Correios.

O Palácio do Planalto divulgou ontem nota negando a saída de Meirelles do Banco Central. A nota afirma que ele continua exercendo suas funções "com competência e espírito público". Os rumores da saída de presidente do BC aumentaram depois que o presidente decidiu demitir as diretorias dos Correios e do IRB.

Legenda da foto: PALOCCI: PREOCUPAÇÃO com impacto da crise política na economia