Título: Firmino: coronel falsificou carteiras
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 21/10/2004, O país, p. 4

O ex-agente do serviço de inteligência do Exército José Alves Firmino responsabilizou o coronel Jorge Alberto Forrer Garcia, que hoje ocupa um posto importante na Escola Superior de Inteligência do Exército, pela elaboração da carteira de estudante que usou para se infiltrar no movimento estudantil no início da década passada. Cabo reformado, Firmino sustenta que Garcia mandou confeccionar e depois assinou a carteira falsa. O ex-agente também usou uma carteira de jornalista falsificada para se infiltrar em movimentos sociais, sindicatos e em reuniões do PT.

Segundo Firmino, no período da confecção das carteiras falsas Garcia era major e atuava no serviço de inteligência com o codinome "doutor Luiz Henrique". Desde então, Garcia obteve sucessivas promoções e hoje é coronel. O serviço de inteligência é um dos setores centrais do Exército. Em 2002, Garcia teria servido até no gabinete do Comando do Exército.

O GLOBO tentou, sem sucesso, ouvir o coronel sobre as denúncias. Mas o Centro de Comunicação Social do Exército informou que nem ele e nem outro oficial falará sobre o assunto.

¿ Para nós, este caso está encerrado ¿ disse um oficial.

Cabo espionou passeatas em Brasília em 1992 e 1993

Com a carteira de estudante, o cabo espionou passeatas e encontros de estudantes em Brasília em 1992 e 1993, época das grandes manifestações de rua pró-impeachment do presidente Fernando Collor. Com a imagem de estudante combativo, Firmino conseguiu se infiltrar no Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Distrito Federal e, a partir daí, acompanhar de perto políticos petistas como o ex-governador e atual senador Cristovam Buarque, a deputada federal Maria José Maninha e a ex-vice-governadora e deputada distrital Arlete Sampaio.

A partir de 1995, Firmino usou uma carteira de jornalista, também falsificada, para entrevistar integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O documento teria sido elaborado pela subseção de Operações a partir de carteiras em branco produzidas pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). Firmino sustenta que esta e outras carteiras foram roubadas por um sargento e depois preenchidas por seus colegas da subseção de Operações. Para encobrir a fraude, os arapongas escreviam e assinavam reportagens para um pequeno jornal de Marabá.

¿ Esse jornal publicava nossas matérias sobre o MST para provar que nós éramos jornalistas ¿ conta Firmino.

A espionagem sobre os sem-terra era uma das prioridades do serviço de inteligência entre 1995 e 1996. Segundo Firmino, naquele período o governo federal estava muito preocupado com o crescimento do MST e das invasões de terras.

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