Título: Brasil planeja construir quatro usinas nucleares
Autor: Mônica Tavares
Fonte: O Globo, 21/10/2004, O país, p. 5

O governo federal planeja ampliar o Programa Nuclear Brasileiro e pretende construir quatro usinas nucleares, cada uma capaz de gerar 300 megawatts de energia elétrica. Os dois primeiros reatores deverão começar a funcionar em 2010 e os outros dois em 2016. O custo total dos reatores, que serão totalmente construídos no país, com tecnologia nacional, está estimado em US$ 2,8 bilhões.

Essas usinas poderão ser instaladas em Manaus, área em que há dificuldade de abastecimento de energia, e na Região Nordeste, que também tem problemas e depende exclusivamente do Rio São Francisco. Uma usina com capacidade de 300 MW corresponde ao consumo de uma cidade do porte de Florianópolis.

Revisão do programa estará pronta até dezembro

O governo está elaborando a revisão do Programa Nuclear, que deverá ficar pronta até dezembro. Este ano o programa completa 30 anos. A idéia é que, após a construção da usina nuclear de Angra 3, que terá capacidade de 1.300 MW e exigirá investimentos de R$ 7,5 bilhões, os reatores sejam instalados. A energia nuclear, que corresponde atualmente a 4,5% da matriz energética do país, em 2010 passará a ser de 5,7% do total.

Também serão previstos no Programa Nuclear Brasileiro a construção de pequenos reatores, com capacidade de 40 MW a 60 MW. Eles deverão ser usados para a purificação da água salobra, principalmente no semi-árido nordestino, e para o bombeamento de água.

Segundo um integrante do grupo que faz a revisão do programa, entre 2015 e 2018, o submarino nuclear deverá ser incorporado à Marinha.

Outra proposta será a construção de uma indústria estatal para produzir rádio-fármacos. Hoje, já são feitas no país dois milhões de aplicações de fármacos que usam material radioativo. Eles são usados principalmente para combater doenças como o câncer. A indústria terá que ser estatal porque a Constituição determina que material radioativo é monopólio da União.

O técnico disse ainda que o Brasil está planejando e se capacitando para utilizar a energia nuclear nas áreas de energia, saúde, naval e de agricultura. Ele afirmou que a partir de 2006 a radioatividade será também usada no agronegócio, para submeter frutas destinadas à exportação a processo de irradiação, evitando a contaminação por fungos e preservando os alimentos por mais tempo.

Fazem parte do grupo que está elaborando a revisão do programa representantes da Comissão Nacional de Energia Nuclear; da Termonuclear/Eletrobrás; da Marinha; da Nuclep; e das Indústrias Nucleares do Brasil, de Resende (RJ), que, esta semana, está sendo inspecionada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).