Título: ALIANÇA INTERNACIONAL NÃO MUDA PERFIL DA CASA, DIZ EDITOR
Autor: Mànya Millen e Rachel Bertol
Fonte: O Globo, 11/06/2005, Economia, p. 25

Objetiva vai ganhar dois novos selos este ano, um deles voltado para a ficção comercial

O namoro entre a editora Objetiva e a Santillana é antigo. O primeiro passo foi dado pela empresa espanhola no final de 2000, no momento em que a editora carioca, criada pelo jornalista Roberto Feith em 1991, começava a perceber que precisaria de um suporte maior para crescer e permanecer, como hoje, entre as cinco principais do país no segmento de livros gerais (que exclui as didáticas e as editoras de livros técnicos). Foram quatro anos de conversa até o casamento tomar forma, em fevereiro deste ano.

- Naquela época, nós e a Santillana percebemos que não estávamos preparados para esse matrimônio e deixamos a relação esfriar - brinca Feith. - Nesse período conversei com muita gente, com outras editoras brasileiras e grupos internacionais. Mas a empatia entre a Objetiva e a Santillana foi mútua e sei que fiz a melhor opção.

Feith afirma que o perfil da Objetiva não muda, ou seja, ela continuará a ser uma editora voltada para "ficção e não-ficção estrangeira de qualidade, com ênfase na literatura brasileira". E, principalmente, enfatiza que terá total autonomia.

- É uma aliança que preserva nossa identidade editorial, nossa maneira de pensar. Nós fomos, somos e continuaremos sendo uma editora gerida por brasileiros - diz Feith, que manterá toda sua equipe, incluindo a diretora editorial Isa Pessoa. - Uma parceria internacional contribui muito, seja em acesso a capital, conteúdo editorial, troca de informações, técnica de gestão.

Francisco Cuadrado Pérez, diretor-geral da Santillana Ediciones Generales, que veio ao Rio fechar o negócio, endossa a questão da autonomia e explica a investida das espanholas no Brasil:

- É um mercado em crescimento, estável política e socialmente, e que também apresenta um forte grau de profissionalismo no setor editorial. Temos muito a trocar.

Feith afirma que não foi pressionado a vender parte da editora por causa de supostas dívidas. Em 2001, a Objetiva investiu R$5 milhões no projeto do Dicionário Houaiss, dos quais R$1,25 milhão obtido em financiamento do BNDES. Feith reconhece que o investimento ainda não se pagou, mas é enfático:

- A Objetiva não deve dinheiro a ninguém. O financiamento já foi quitado. Não tivemos ainda um retorno de rentabilidade, que virá a médio e longo prazo, mas não é por isso que fechamos o negócio.

O ponto principal, diz o editor, era fazer a editora crescer não na escala, mas na diversificação de seu catálogo, como, por exemplo, com a criação de selos para nichos ainda não explorados. Dois deles serão lançados ainda este ano. O primeiro deles, Suma, vai abrigar a chamada ficção comercial - thrillers, romances históricos e outros títulos com grande potencial de vendagem - e estréia em agosto. Embora o nome do selo já seja fruto da parceria com a Santillana, que o inaugura no Brasil, o primeiro título da coleção já estava contratado pela Objetiva. Será "O discípulo", da americana Elizabeth Kostova, considerado pela crítica um "Código da Vinci" turbinado. O segundo selo não foi divulgado.

Para Feith, a ficção comercial é um caminho relevante, "embora não o único", para recuperar leitores perdidos nos últimos cinco anos por causa da queda na renda.

Em termos de intercâmbio de autores, Feith e Pérez preferem não falar no momento. A aliança entre os grupos pode facilitar a publicação de autores da Santillana aqui - pelo selo Alfaguara - e da Objetiva lá. Mas nada foi acertado. Carlos Fuentes, José Saramago, Vargas Llosa, Elias Canetti e Günter Grass, publicados no Brasil por outras editoras, são algumas das estrelas da casa espanhola. (Mànya Millen)

Legenda da foto: O ESPANHOL Francisco Pérez (à esquerda) e o editor Roberto Feith: parceria