Título: IPCA EM QUEDA ALIMENTA PREVISÕES DE JURO MENOR
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 11/06/2005, Economia, p. 27
Índice de 0,49% em maio é o mais baixo desde outubro de 2004. Para analistas, Selic pode parar de subir este mês
Os juros básicos da economia (Selic) podem parar de subir já este mês e começar a cair em agosto ou até antes, depois de subirem ininterruptamente desde setembro de 2004. Essa avaliação se tornou consenso entre analistas após a divulgação ontem pelo IBGE do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio. A taxa de 0,49% foi inferior ao que projetava o mercado (0,55%), é a menor desde outubro e corresponde a quase a metade da inflação de abril (0,87%). No ano, o índice subiu 3,18% e, em 12 meses, 8,05%.
O otimismo ficou ainda maior com a deflação de 0,30% na primeira prévia de junho do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), também divulgado ontem.
- A inflação está claramente em queda. O Copom (Comitê de Política Monetária) deve manter a Selic em 19,75% ao ano na reunião da próxima semana. O Banco Central só estava esperando o momento favorável para baixar os juros, e ele chegou - disse o economista Elson Teles, da gestora de recursos Fides.
Bradesco prevê que recuo pode acontecer em julho
Para o analista, a manutenção dos juros é o primeiro passo para o afrouxamento da política monetária, já que não é possível inverter uma trajetória de alta de imediato. É preciso um período de transição para preparar o mercado, lembrou Teles.
Os números do IPCA - que é o parâmetro para o sistema do governo de metas de inflação - justificaram o otimismo dos analistas. A média dos núcleos, cálculo que retira do índice as oscilações mais fortes, baixou de 0,70% em abril para 0,56% em maio. Para este ano, a meta está fixada em 5,1%.
- Isso indica uma inflação anualizada de 6,34% em maio, bem inferior aos 7,7% de abril - afirmou o professor da PUC Luiz Roberto Cunha.
O economista acredita que, nos próximos meses, o IPCA ficará bem abaixo das taxas mensais registradas em 2004. Em junho do ano passado, o índice ficara em 0,71%. Agora, as previsões apontam para 0,35%.
- O mesmo deve acontecer em julho e agosto. Com isso, a taxa dos últimos 12 meses tem tudo para ficar próxima de 6% ou abaixo disso - afirmou.
O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, em seu relatório diário, é ainda mais otimista:
"Isto cria um ambiente de confiança para já começar a planejar o afrouxamento monetário, que poderá ocorrer antes mesmo de setembro, que é o nosso cenário-base. Não descartamos que ele ocorra em agosto ou, com um pouco de sorte, mesmo em julho."
Além do IPCA, o desempenho fraco da economia no primeiro trimestre - com crescimento de apenas 0,3% frente ao fim de 2004 - refletiu os efeitos da política monetária e colaborou para os analistas acreditarem num cenário de juros menores.
Álcool e gasolina puxaram inflação para baixo
Esse foi um dos motivos que fizeram Fabio Ono, economista da consultoria GRC Visão, esperar um afrouxamento da política monetária. Ele prevê uma Selic de 18,75% em dezembro.
- Houve uma desaceleração da economia no primeiro trimestre e a expansão da produção industrial foi pequena. E há três semanas o mercado vem reduzindo a expectativa de inflação - afirmou Ono.
A crença de índices mais baixos nos próximos meses se prende ao comportamento da alimentação. Os preços desse grupo em maio variaram 0,65%, depois de alta de 0,81% em abril. E tendem a cair mais, já que as quedas de preços no atacado ainda não chegaram ao varejo. Na primeira prévia do IGP-M, os produtos agrícolas no atacado ficaram 1,81% mais baratos e os industriais, 0,45%:
- Além disso, não temos notícias de reajustes de tarifas em junho, a não ser o aumento de 7,99% nas ligações de telefone fixo para celular, que representam parte da uma cesta de vários produtos - disse Eulina Nunes, técnica do IBGE.
A boa safra de cana-de-açúcar também está ajudando a conter a inflação. O álcool ficou 5,42% mais barato e a gasolina, 0,64%. O impacto desses itens fez o IPCA ficar 0,10 ponto percentual menor. A propagandista Elaine Gomes ainda considera pouca a redução no preço da gasolina:
- Gasto cerca de R$300 por mês com gasolina, porque uso o carro no trabalho. Torço por um preço menor.
COLABOROU Paula Dias, do Globo Online
INCLUI QUADRO: VEJA O COMPORTAMENTO DOS PREÇOS