Título: FRANÇA DEVE ENDURECER POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO
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Fonte: O Globo, 11/06/2005, O Mundo, p. 33

Villepin defende rigor na seleção de quem vai viver no país e pede propostas a comissão sobre expulsão de ilegais

PARIS. A França promete endurecer sua política em relação aos imigrantes, após seus cidadãos rejeitarem a adoção da Constituição européia num referendo. O primeiro-ministro Dominique de Villepin anunciou ontem sua intenção de "mudar de escala" no combate à imigração ilegal, em busca de "uma imigração escolhida", ao criar uma comissão para o assunto. Entre as medidas estudadas está o aumento das expulsões de pessoas que vivem ilegalmente no país.

"A França tem o direito e o dever de controlar sua política de fluxos migratórios com critérios adaptados, fiéis a sua tradição, suas exigências e seus princípios", disse o premier num comunicado, anunciando a criação do Comitê Interministerial de Controle da Imigração.

Villepin - que assumiu o cargo há dez dias, após a vitória do "não" no referendo - presidiu o ato que contou com a participação de todos os ministros ligados ao assunto.

O primeiro-ministro pediu-lhes que apresentem propostas de ação sobre os seguintes pontos: aumento da expulsão de imigrantes ilegais e ajuda no retorno a seus países de origem; melhora no dispositivo de acolhida aos que pedem asilo; mobilização do Estado contra o trabalho ilegal; e reforço no controle da regularização de casamentos realizados no exterior.

O premier também pediu propostas sobre a acolhida a estudantes estrangeiros e a adaptação às necessidades da economia em matéria de imigração.

Curiosamente, as medidas aproximam Villepin da posição do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, de quem já divergiu fortemente sobre o assunto. Na véspera, numa reunião do partido conservador que ocupa o governo, UMP, Sarkozy havia reclamado para o governo e o Executivo o direito de fixar a cada ano "categoria por categoria o número de pessoas admitidas" em território francês.

- É preciso escolher entre os fluxos migratórios e não se submeter a eles. Devemos atrair trabalhadores qualificados, criadores de empresas, pesquisadores, professores universitários - dissera Sarkozy.

Villepin, no entanto, rejeita a política de cotas sugerida indiretamente por Sarkozy:

- As cotas, como se aplicam em outras partes, por nacionalidade ou etnia, não estão de acordo com o espírito da França, fiel à tradição humanista.

Legenda da foto: VILLEPIN (À esquerda) e Sarkozy após reunião sobre imigração, em Paris