Título: GOVERNO NÃO RECUA
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 13/06/2005, Panorama político, p. 2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus articuladores políticos decidiram ir à guerra contra a oposição. Pelo menos ontem não havia disposição para qualquer concessão. Ou seja, se a oposição quiser eleger o presidente da CPI dos Correios, que consiga os votos. O chefe da Casa Civil, José Dirceu, não vai abandonar a luta nem o presidente Lula pode abrir mão de sua colaboração.

Diante dos insistentes boatos dos últimos dias sobre o descontentamento de José Dirceu, o presidente Lula se reuniu com alguns assessores ontem de manhã, na Granja do Torto. Lá decidiu-se rearticular a base parlamentar do governo tendo como centro a aliança PT-PMDB-PCdoB-PSB. E prevaleceu o entendimento de que seria uma concessão à oposição a saída, ou a demissão, do ministro José Dirceu. A tese, que vinha sendo defendida internamente pelos ministros Antonio Palocci, Luiz Gushiken e Jaques Wagner, de entregar o anel para não perder os dedos, não vingou. Concluiu-se que sua saída desarmaria a militância petista, criaria um fosso entre o PT e o governo, e representaria uma capitulação da qual se aproveitaria a oposição para aumentar sua ousadia.

¿ Esta era a única posição que podíamos adotar. Não tem papo com a oposição nem podemos acreditar em sua boa vontade. Não dá para fazer uma aliança com crocodilo achando que vai ser devorado por último ¿ diz o ministro Aldo Rebelo.

Coube ao coordenador político passar o dia articulando a reação. Reuniu-se com o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, foi ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e esteve com José Dirceu. Pouco se sabe deste encontro, mas o que se conta é que nele Aldo disse a Dirceu que o presidente Lula não abre mão dele, que sua presença dá densidade ao governo e que ele não ganharia nada voltando para o Congresso, onde seria submetido a um bate-boca com a oposição e com Roberto Jefferson. Por fim, o governo está convencido que o presidente do PTB não tem mais munição e que, sem provas, há um limite para que suas declarações continuem sendo tratadas como verdade absoluta. A ofensiva também inclui negociações para manter o PTB na base aliada, a despeito do esforço que se fará para tentar desmascarar as manobras do deputado Roberto Jefferson.