Título: 'TERÇA-FEIRA NEGRA' TIRA O SONO DO GOVERNO
Autor: Helena Chagas, Tereza Cruvinel e Gerson Camarott
Fonte: O Globo, 13/06/2005, O País, p. 3

Fragilizado com as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), o governo enfrenta amanhã o que os seus principais líderes estão chamando de terça-feira negra. Enquanto no Senado os governistas tentarão manter o comando da CPI dos Correios, Jefferson deverá usar o Conselho de Ética da Câmara como palco para aumentar a carga sobre as denúncias de suposto envolvimento do ministro da Casa Civil, José Dirceu, no esquema de recolhimento de dinheiro de estatais para pagar mesadas a parlamentares.

Sem acordo, a escolha dos comandantes da CPI deverá acontecer em uma votação. Os governistas vetaram o senador César Borges (PFL-BA) para o cargo de relator, mas em reunião ontem na casa do governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), a cúpula pefelista decidiu indicar o senador para disputar a presidência da comissão. A briga de César Borges será com o petista Delcídio Amaral (MS). O presidente eleito vai escolher o relator.

Segundo o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), o governo não pode ser acusado de truculência porque admite que a oposição tenha a relatoria. Mas desde que escolha entre três nomes: os deputados Eliseu Resende (PFL-MG) e Mussa Demes (PI) e o senador Edison Lobão (MA). O PFL não aceita - nenhum deles integra a CPI. O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse que, no voto secreto, o governo pode amargar nova derrota.

- Os membros da CPI não vão querer amargar a desconfiança da opinião pública de que participaram de um conchavo para dar ao governo o controle da CPI - disse Maia.

- Não é veto. É uma visão de direção responsável da CPI para evitar que ela se torne um palanque - disse Paulo Rocha.

Para o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), se a base ficar com a presidência e a relatoria, vai ficar claro que os governistas estão confrontando as declarações do presidente Lula de que era preciso cortar na própria carne.

- Nas ruas, o que se ouve é o povo dizendo: como o presidente promete cortar na própria carne e os aliados querem fazer uma CPI chapa branca? - afirmou o senador.

Dirceu deve ser convocado a depor

Escolhidos o relator e o presidente, imediatamente os requerimentos de convocação para os depoimentos serão votados. A ordem de convocações deve começar pelos diretores dos Correios envolvidos no escândalo, Roberto Jefferson e, depois, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, um dos responsáveis pela divisão dos cargos entre os aliados.

A expectativa em torno do primeiro depoimento público de Jefferson após as denúncias é grande. De manhã, ele será ouvido pelo corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) e pelos quatro membros da comissão de sindicância que também vai apurar as denúncias. O depoimento será a portas fechadas. Às 14h30m, ele será inquirido pelos integrantes do Conselho de Ética em sessão pública. Ontem, segundo sua assessoria, Jefferson passou o dia na casa de um amigo em Brasília e só hoje vai se preparar para os depoimentos.

Até mesmo o PTB teme por novas declarações bombásticas. Na entrevista à "Folha de S.Paulo", Jefferson deixou em situação delicada o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Ele foi apontado como um dos ministros que não tiveram coragem de alertar Lula da existência do mensalão. Como Mares Guia foi cotado para substituí-lo na presidência do PTB, a avaliação é que o ataque foi uma estocada para tirá-lo do páreo.

Sexta-feira, o diretório do PTB decidirá sobre o afastamento de Jefferson da presidência. Ele ameaça lutar para permanecer no cargo.