Título: Ligação de Delúbio com agências que trabalham para governo é investigada
Autor: Regina Alvarez e Helena Chagas
Fonte: O Globo, 12/06/2005, O País, p. 4

Procuradores apuram relação do tesoureiro com publicitário Marcos Valério

BRASÍLIA. Personagem-chave das denúncias de compra de parlamentares no Congresso, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, está sendo investigado pelo Ministério Publico Federal desde o ano passado e o foco são suas ligações com agências de publicidade que prestam serviço ao governo federal. Nos últimos dois meses, já foram emitidos mais de 30 ofícios a órgãos do governo com pedidos de esclarecimentos sobre esses contratos.

Desde o início do governo Lula Delúbio mantém bom relacionamento com algumas dessas agências, o que chamou a atenção dos procuradores. A suspeita de que o relacionamento iria além de uma simples amizade foi reforçada ainda no auge do caso Waldomiro Diniz, quando uma testemunha teria relatado ao Ministério Público detalhes de um encontro entre o tesoureiro do PT e representantes de uma das agências.

O encontro ocorrido em São Paulo foi gravado e a fita anexada às investigações, o que pode acabar estabelecendo uma conexão entre o caso Waldomiro e as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, envolvendo a participação de Delúbio no pagamento do mensalão a deputados do PL e do PP.

Os procuradores estão especialmente interessados na amizade de Delúbio com o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das agências DNA Propaganda e SMP&B. Marcos Valério é uma figura conhecida no meio publicitário pela carreira bem sucedida e as boas relações com o governo e com Delúbio. Seria Valério, inclusive, o artífice da aproximação do tesoureiro com os outros caciques da propaganda oficial.

Embora seus negócios estejam sediados em Belo Horizonte, o publicitário também circula em Brasília e em São Paulo e tem ligações com parlamentares de partidos da base governista. O que os procuradores investigam é se as agências de publicidade participam de alguma operação irregular de doações a partidos.

Outro dado que chama atenção do Ministério Público é o bom relacionamento que o tesoureiro Delúbio tem com o Grupo Total, uma holding de agências de publicidade que tem sua base em São Paulo.

A SMP&B tem as contas dos Correios, do Ministério dos Esportes e da Câmara dos Deputados. A DNA está no Banco do Brasil e na Eletronorte. Já o Grupo Total, que reúne as agências Fischer América e D + Brasil, atende no atual governo os dois maiores bancos estatais, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, concorrentes na disputa por novos clientes. A Fischer está na Caixa e a D + no Banco do Brasil.

Nos bastidores do governo, a informação é de que a entrada da Fischer América na CEF deixou contrariado o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, exatamente pelo conflito de interesses que isso representaria. Os editais de licitação da CEF e do BB para a contratação das agências de publicidade trazem restrições ao atendimento de concorrentes pela mesma empresa. Mas o Grupo Total e os dois bancos conseguiram achar uma saída jurídica e assinaram os contratos.

A relação do Grupo com os dois clientes é cada vez melhor. O publicitário Eduardo Fischer atende a Caixa, mas também circula com desenvoltura no Banco do Brasil, dando palpites nas campanhas da D + Brasil, que na época da assinatura do contrato com o BB chamava-se Calia.

Legenda da foto: DELÚBIO SOARES: testemunha relatou encontro de tesoureiro do PT com representante de agências