Título: PLANALTO TENTA BLINDAR IMAGEM DE LULA CONTRA DENÚNCIAS
Autor: Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 12/06/2005, O País, p. 12

Governo provocará saída de ministros e dirigentes do PT caso isso seja necessário para evitar a contaminação

BRASÍLIA. A crise política deflagrada pelas denúncias de corrupção em estatais e do mensalão pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a parlamentares aliados levou o Planalto a pôr em prática uma estratégia para tentar blindar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ordem é não deixar que as investigações da CPI atinjam o principal patrimônio do governo: o próprio presidente.

Todo o esforço do governo e do PT nos próximos meses será proteger Lula das denúncias. Se para evitar a contaminação for preciso sacrificar ministros e dirigentes do PT, isso será feito. A semana terminou com dois petistas na linha de tiro de setores do governo: Delúbio e o chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Numa reunião no Planalto com Lula, no auge da crise, ministros e assessores avaliaram que a situação é diferente da crise do governo Collor, quando as denúncias se fecharam em torno do então presidente. Um ministro lembrou que a CPI do PC (Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente) foi criada para obter provas contra Collor.

Revolta contra Jefferson por tentativa de atingir Lula

No núcleo do governo, a revolta é grande contra o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), que teria tentado jogar Lula no olho do furacão. O Planalto considera a tentativa frustrada.

- Lula está blindado. Não há denúncias contra ele - diz o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

O PT e o governo organizaram uma tropa de choque para tentar controlar os rumos da investigação na CPI dos Correios e, assim, preservar ao máximo a imagem de Lula. Para a linha de frente foram designados, além de Mercadante, os líderes do PT, Delcídio Amaral (MS), e do PMDB, Ney Suassuna (PB), que se indicaram para a CPI.

Na semana passada, Lula pediu empenho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para evitar excessos na CPI. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, vai monitorar os passos da comissão aparando arestas com os aliados. José Dirceu foi excluído do processo de blindagem do presidente: sua exposição pode levar a crise para a ante-sala do gabinete presidencial. Outro temor é de que a oposição aproveite para relembrar o escândalo protagonizado pelo ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado cobrando propina de um bicheiro.

- O governo errou ao não remover o ministro Dirceu depois do escândalo Waldomiro. Está explícito que Delúbio e Waldomiro estavam a serviço de alguém maior quando negociavam - diz o ex-líder tucano deputado Jutahy Junior (BA).

No PFL a avaliação é semelhante.

- A CPI do Waldomiro ficou pequena diante da CPI dos Correios, e esta também, diante do mensalão. Vamos ver o que ocorre daqui para a frente - diz o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN).

www.oglobo.com.br/pais