Título: MAIS HOTÉIS PARA O PAN
Autor: Luiz Ernesto Magalhães
Fonte: O Globo, 13/06/2005, Rio, p. 9

A prefeitura enviará nos próximos dias à Câmara dos Vereadores projeto propondo novas regras para incentivar a construção de hotéis no Rio. O texto, em fase final de discussão na Secretaria municipal de Urbanismo, tem o objetivo de tentar ampliar a oferta de leitos no Rio ainda para os Jogos Pan-Americanos de 2007, quando a cidade deverá enfrentar problemas para a acomodação de turistas. Uma das idéias é liberar a construção de empreendimentos do gênero nas avenidas da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes nos locais onde hoje condomínios e shoppings também são permitidos. Atualmente, a construção de hotéis nesses bairros só é autorizada na orla marítima.

A edificação de hotéis na Avenida Sernambetiba não tem sido considerada atrativa pelos empresários. Isto porque desde 2001 a prefeitura passou a exigir que qualquer novo prédio erguido na orla de toda a cidade não projete sombra na areia. A restrição acaba limitando o gabarito.

- Os hotéis fora da orla teriam que respeitar os mesmos parâmetros urbanísticos (altura dos prédios e área total edificada) válidos para qualquer outro empreendimento comercial ou residencial onde forem construídos - explicou o secretário municipal de Urbanismo, Alfredo Sirkis, citando as avenidas das Américas, Ayrton Senna e Embaixador Abelardo Bueno como possíveis locais para as construções do gênero.

Sistema semelhante ao dos apart-hotéis

Outra medida em estudos seria permitir que cada quarto do hotel fosse uma unidade independente, sistema adotado principalmente por apart-hotéis. A regra seria aplicada na Barra, no Recreio e em parte de Jacarepaguá, Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim, Centro, Flamengo, Ipanema e Leblon.

- As grandes redes internacionais não constroem mais hotéis. Existem investidores locais, que compram uma participação no empreendimento. O sistema de numeração independente dos quartos facilitaria os negócios. As redes só ficam responsáveis por gerenciar o hotel - explicou o empresário Jorge Zarur, que defende o projeto.

A proposta polêmica ainda não tem unanimidade de todo o setor. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH), Alfredo Lopes, diz que antes de se pensar em novos hotéis devem ser criadas condições para atrair mais turistas para o Rio. Principalmente, acrescenta, os mais lucrativos: os que chegam à cidade a negócios.

- O Riocentro, principal centro de convenções da cidade, enfrenta sérios problemas de conservação. A União também não ajuda o Rio ao estimular a realização de cada vez mais eventos em São Paulo. Além disso, a abertura de novos hotéis só se justificaria caso tivéssemos uma taxa de ocupação média de 85% ao longo do ano . Hoje, essa taxa é de cerca de 70% - disse Alfredo Lopes.

Para Zarur, porém, os atuais operadores temem a concorrência:

- A demanda existe, mas esbarra numa tentativa de se manter uma reserva de mercado pelos empresários mais tradicionais. A prova é que o Comitê Organizador do Pan 2007 (CO-Rio) e a prefeitura terão que ampliar a oferta de leitos incentivando moradores do Rio a transformar suas casas em hotéis provisórios durante os jogos.

Já Guilherme Cesari, da HVS Internacional, consultoria especializada em hotelaria, acha que as regras não garantiriam a entrada de novas redes no Rio, principalmente as que têm perfil de receber turistas que vêm à cidade a lazer:

- Para as cadeias internacionais, quando se menciona o Rio, é como se a Barra da Tijuca não existisse. No mercado americano, os grandes grupos querem investir na Zona Sul e no Centro, seja construindo ou reformando hotéis existentes. Mas, nessas regiões, os grupos enfrentam resistência das cadeias já instaladas.

O novo projeto coincide com discussões na Câmara dos Vereadores para liberar a construção de dois hotéis no trecho inicial da Reserva, na Barra da Tijuca. Sirkis diz que a proposta até pode ser estudada dentro do projeto sobre novas regras para hotéis no Rio. Mas que, caso a aprovação aconteça antes, recomendará ao prefeito Cesar Maia que vete o projeto, para que este seja feito de acordo com as novas regras.