Título: DILEMAS DO GÁS
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 13/06/2005, Economia, p. 16

Como a Bolívia se tornou um campo minado, os países do Cone Sul buscam no Peru uma alternativa para o fornecimento de gás natural a médio prazo. Um gasoduto teria de atravessar os Andes e passar por parques nacionais no Chile até chegar a Argentina. E de lá se ligaria com o Uruguai e o Brasil. Além de problemas ambientais, Peru e Chile teriam de superar conflitos históricos.

As reservas de gás no Peru estão na região de Camisea. Para o gás peruano atender ao mercado do Cone Sul são necessários mil quilômetros de dutos. Uma saída, que esbarra no custo, seria usar o gás natural liqüefeito, projeto que a Repsol pretende pôr em prática.

De qualquer forma, o Peru também tem seus problemas políticos. Não na gravidade da Bolívia, mas se investimentos estrangeiros no petróleo e gás se multiplicarem, os sentimentos nacionalistas no Peru voltarão à tona.

Quanto à Bolívia, somente as reservas provadas que a Petrobras explora são maiores do que todo o gás disponível no Peru. Por isso é que se tem falado em pacificação compulsória, só possível por muita pressão dos países vizinhos.

O pólo petroquímico de Duque de Caxias (Rio Polímeros) já nasce no dia 23 com a perspectiva de ser duplicado. A unidade industrial que está sendo inaugurada é a maior do setor na América Latina, e produzirá mais de 500 mil toneladas de eteno e 500 mil de polietileno. Para que o pólo possa ser duplicado, a Petrobras precisará garantir o fornecimento de etano, que representa aproximadamente 15% do gás natural (parte úmida), matéria-prima da Rio Polímeros. E se a refinaria petroquímica virar mesmo realidade, o grupo Suzano (um dos sócios da Rio Polímeros) é candidato a investir numa nova fábrica de polipropileno, para produzir 400 mil toneladas anuais, se tiver a garantia de fornecimento de propeno.

A Vale do Rio Doce e a siderurgia brasileira estão em conflito, a ponto de o órgão que representa o setor (o IBS) ter pedido a intervenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômico (Cade). Os preços internacionais do minério de ferro subiram 70%, mas para algumas siderúrgicas o impacto foi ainda mais forte, porque antes essas usinas se beneficiavam de um desconto que podia chegar a 40% (sem considerar os custos de transporte) por estarem próximas das minas.

Como a demanda de minério de ferro no mundo hoje supera a oferta, tais descontos desapareceram, e as siderúrgicas se queixam que não têm para onde correr, pois mesmo os mineradores independentes têm contratos de longo prazo com a Vale.

A CSN, dona de uma grande mina (Casa de Pedra), não pode concorrer nesse mercado porque a Vale tem com a empresa um acordo de preferência na compra desse minério. A concorrência no mercado da região Sudeste depende do aumento de produção da Rio Tinto (RTZ), que tem uma mina em Corumbá (MS). Mas isso somente ocorrerá se a mineradora tiver condições de escoar sua produção por ferrovia. Por isso, as siderúrgicas pediram ao Cade que a Vale não aumente sua participação na MRS (que atualmente é de 20%) e ofereça igualdade de condições aos concorrentes que utilizam suas ferrovias, além de garantir o escoamento do aço fabricado em Minas Gerais.

Como solução mais imediata, o IBS sugere ao Cade que a Vale se desfaça de uma grande mina que possa atender aos mercados nas áreas de influência das estradas de ferro Vitória-Minas e MRS. E que a Companhia Siderúrgica Nacional fique desobrigada de vender seu minério preferencialmente para a Vale, ao menos no mercado interno.

Semanas atrás, reproduzi aqui as opiniões de Eliezer Batista e Raphael de Almeida Magalhães em favor da Vale. Agora com a versão das siderúrgicas, os dois lados da questão estão postos para avaliação.

O consumo de energia elétrica aumentou 7% no Rio em maio em relação a mesmo mês do ano passado, e a razão principal foi o forte veranico.

E a propósito, a Light começou a ver luz no fim do túnel e está prestes a fechar um acordo com o BNDES, que passará a deter 20% do capital da empresa. Dos R$470 milhões que a Light deve ao banco, metade será convertida em ações, por um preço abaixo das cotações em que os títulos estão sendo negociados na Bovespa. Acionistas minoritários - que hoje detêm 5% do capital da Light - terão direto a adquirir ações nas mesmas condições.

A EDF francesa continuará como sócio controlador da Light, mas já se comprometeu com o BNDES a ter um programa de governança corporativa que a integrará ao grupo de companhias com maior percentual de ações em poder do público. Os papéis serão vendidos à medida que os resultados financeiros forem melhorando depois da reestruturação da dívida.

O BNDES temia que a EDF estivesse batendo em retirada e os franceses responderam que isso seria uma asneira, pois chegaram a acumular prejuízos de mais de R$1 bilhão no Brasil e somente agora estão colhendo os primeiros frutos de um plano iniciado há três anos, quando Jean-Pierre Bel, executivo de carreira do grupo, assumiu a presidência da Light.

A empresa terá direito a cobrar um reajuste adicional nas tarifas dos consumidores residenciais a partir de novembro. Tal ajuste foi autorizado pela Aneel, o órgão regulador, mas o Ministério da Fazenda não permitiu que a cobrança fosse feita antes da data de correção anual nas tarifas da Light. Então, no fim do ano dois aumentos se acumularão. A companhia terá de se desdobrar para explicar isso aos consumidores...