Título: DESVALORIZAÇÃO DO DÓLAR E DO EURO GERA PERDAS PARA FUNDOS CAMBIAIS
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 13/06/2005, Economia, p. 18

Quem tem dívidas em dólar ou euro, ou tinha no mapa uma viagem para o exterior respirou aliviado em 2005, apesar da escalada do dólar na última semana. No acumulado do ano, tanto o euro quanto o dólar registraram fortes quedas em relação ao real - 16,99% e 6,82%, respectivamente. Mas a boa notícia para uns representou perdas para outros. Com a desvalorização das moedas, os fundos cambiais tiveram prejuízo no ano, num ritmo mais acelerado do que o registrado nos últimos 12 meses.

Em 2005, os fundos que acompanham a trajetória do dólar recuaram 6,45%, em média, segundo dados do site Fortuna. Já os que têm por objetivo refletir as oscilações do euro tiveram perdas maiores: 16,33%. Analistas acreditam, porém, que a trajetória de forte queda das moedas no ano pode estar próxima do fim, e a recente alta do dólar poderia ser o início de um ciclo de ajuste das cotações para cima.

Juros em queda podemfrear venda de dólares

Por isso, para quem pretende diversificar investimentos, essa pode ser uma boa hora para aplicar em fundos cambiais. Para os que já aplicam, o momento é de não mexer nos recursos, dizem especialistas.

- Muito da queda do dólar tem relação com as altas taxas de juros brasileiras, hoje em 19,75% ao ano. Os investidores preferem vender dólares e aplicar recursos em títulos atrelados à taxa básica Selic. Mas o cenário está mudando. A crise política e as perspectivas de os juros começarem a cair no segundo semestre devem impulsionar a alta do dólar. Além disso, após quedas fortes, como aconteceu este ano, é natural que haja correção nos preços dos ativos. Por isso, esse é um excelente momento para se investir ou manter aplicações em fundos cambiais - avalia Pedro Bastos, diretor da Unibanco Asset Management (UAM).

A UAM projeta um dólar a R$2,75 até dezembro deste ano - mesma estimativa do banco alemão WestLB. Para Mário Carvalho, vice-presidente sênior de fundos de investimento do WestLB, o cenário também é de recuperação do euro: a dificuldade dos EUA em solucionar seus déficits comercial e fiscal deve ajudar na valorização do euro após perdas de quase 20% no ano. Neste nível de preços, a moeda européia - que há cerca de dez dias chegou a ser negociada abaixo de R$3 - atrai investidores, o que pressiona as cotações:

- Tanto dólar quanto euro atingiram patamares de preços que são difíceis de se sustentar a médio e longo prazo. A rejeição à constituição da União Européia pela França e pela Holanda fragilizou o euro a curto prazo, mas dificilmente a moeda se sustentará abaixo dos R$3. É um nível artificial de preços que não deve se manter.

O diretor de TV Maurício Zágari foi surpreendido pela queda acelerada do euro este ano. Com viagem marcada para a Europa, ele comprou a moeda há meses, numa cotação bem mais alta que a atual. Agora quer aproveitar o baixo patamar de preços para colocar mais euros na carteira.

- Da última vez que comprei euros, a cotação estava em R$3,40. Fui pego de surpresa pela queda, mas é impossível acertar a melhor cotação. Agora, vou comprar um pouco mais para viajar. Como a moeda está num patamar mais baixo, talvez na média não tenha pagado tão caro - avalia.

Para Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para a América Latina do WestLB em Nova York, a fragilidade do dólar em relação ao euro - e a conseqüente valorização da moeda européia em relação ao real - é uma tendência que veio para ficar. Para ele, a queda registrada pelo euro na última semana, resultado da rejeição à Constituição Européia, dará espaço para o fortalecimento da moeda diante dos déficits americanos:

- Para resolver pelo menos o déficit fiscal, os EUA precisariam reduzir gastos, mas isso geraria um desaquecimento da economia e essa é hoje uma hipótese pouco provável. Já o dólar também deve sofrer ajustes, subindo para algo em torno de R$2,55 num cenário de taxas de juros em queda - avalia.

No Brasil, dólar deve ficarna contramão do mundo

Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV e ex-presidente do Banco Central, salienta que, embora o dólar deva perder fôlego para o euro no mercado internacional, no Brasil, as taxas de juros serão determinantes para a trajetória da moeda:

- Os mesmos juros altos que ajudaram na queda do dólar, ao recuarem, tenderão a gerar uma valorização do real. Nada alarmante, mas certamente acima dos níveis atuais, em descompasso com o resto do mundo.