Título: Governo ainda tenta acordo na CPI
Autor: Maria Lima/Valderez Caetano/Isabel Braga/Ilimar F.
Fonte: O Globo, 14/06/2005, O País, p. 3

BRASÍLIA. Mesmo com maioria para eleger o presidente e o relator da CPI dos Correios, o governo fará hoje um último esforço para chegar a um acordo com a oposição antes de partir para uma decisão no voto. Ontem, os governistas propuseram a troca do senador César Borges (PFL-BA) ¿ destacado pela oposição para assumir um dos dois cargos ¿ pelo seu colega de bancada, o também baiano Rodolpho Tourinho.

A tentativa de composição vem do temor de um desgaste junto à opinião pública e de que a oposição cumpra a promessa de instalar mais duas CPIs para investigar o suposto mensalão pago a parlamentares da base e denúncias de corrupção no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

Mas o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), padrinho político dos dois pefelistas, já descartou essa hipótese.

¿ O senador Tourinho jamais aceitará isso pela fidelidade que tem ao partido e ao seu colega de bancada, que tem todos os méritos para relatar ou presidir a CPI dos Correios. Ele está impedido de assumir o cargo pelos mesmos motivos que César Borges tem: a minha amizade ¿ avisou Antonio Carlos.

A estratégia do governo de insistir na negociação não é consensual entre os líderes da base aliada. Alguns deles consideram que seria melhor fazer valer a vontade da maioria para evitar problemas futuros. A avaliação desses líderes é que o governo sofreria um desgaste imediato, mas se livraria de uma tensão maior ao longo dos trabalhos da CPI caso tenha um representante da oposição no comando da comissão.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva compartilha dessa opinião e deixou claro ontem na reunião da coordenação que o governo não pode ter constrangimentos em pleitear, neste momento, a presidência e a relatoria da CPI.

¿ Não temos de ter pudor em ter a relatoria e a presidência da CPI. Não podemos nos declarar impedidos porque estaríamos, desta forma, admitindo uma culpa que não temos. Como é regimental, vamos ficar com o comando da comissão ¿ teria ressaltado Lula, segundo o relato de um dos presentes.

Outra preocupação que surgiu ontem ao longo do dia foi a hipótese de o governo ser surpreendido durante a votação para a presidência da CPI, já que o voto é secreto, o que poderia estimular traições entre os aliados.

Antes da reunião da CPI, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), deverá se encontrar com representantes da oposição. Como o líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), só chega em Brasília às 11h, não está descartada a possibilidade de a sessão da CPI, marcada para às 10h, ser adiada para o início da tarde, quando o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), estará depondo perante o Conselho de Ética.

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