Título: O Dia D da crise
Autor: Maria Lima/Valderez Caetano/Isabel Braga/Ilimar F.
Fonte: O Globo, 14/06/2005, O País, p. 3

Governo monta tropa de choque para aguardar depoimento de Jefferson e definição da CPI

Num dia decisivo para a grave crise política, a ordem no governo é defender o Palácio do Planalto e o PT das denúncias de corrupção e compra de votos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um grupo de trabalho para coordenar a ação no embate com a oposição na CPI dos Correios, cuja sessão que escolherá o presidente e o relator está marcada para as 10h. O fato mais esperado do dia, porém, é o depoimento do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, no Conselho de Ética da Câmara, às 14h30m.

Os ministros José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) vão comandar a linha de defesa que o governo vai montar, acionando quando necessário os demais ministros políticos. A primeira orientação é a de que devem ser evitadas manifestações hostis ou dúbias em relação aos partidos aliados. Aprovado na reunião da coordenação de governo, o plano de ação prevê que esses ministros e os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP); na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP); e no Congresso, Fernando Bezerra (PTB-RN), e os partidos aliados assumirão a linha de frente das operações com o objetivo de proteger o Palácio do Planalto.

¿ Vamos defender o governo e defender o PT ¿ disse Dirceu.

Oposição aposta em discurso firme

A expectativa dos governistas é de que, no depoimento no conselho, Jefferson apenas repita o que já disse, sem apresentar provas. A oposição, por sua vez, aposta na contundência do discurso do presidente do PTB ¿ também neste grupo poucos acreditam que tenha provas ¿ para consolidar as denúncias contra o governo e o PT e aprofundar as investigações.

Do Palácio do Planalto a ordem foi partir para desmoralizar o petebista em plenário, se nenhuma prova for apresentada. A oposição, que tem o relator Jairo Carneiro (PFL-BA), pretende municiar o conselho com as informações que serão futuramente obtidas com as quebras de sigilo telefônico e fiscal na CPI dos Correios. Governistas e oposição passaram o dia em reuniões, mas a forma de ação dependerá do teor do depoimento.

¿ Amanhã (hoje) acaba tudo isso. Não tem mais blefe. Nem da nossa parte nem da dele. Cada um vai responder pelo que tem e pelo que não tem. No governo e no PT não pega ninguém. Mas se pegar, vai ter que pagar, e será bem feito ¿ disse Chinaglia.

¿ Vai ser uma noite longa e difícil para muitos. Tudo pode acontecer no depoimento. Mas para a política é um dia muito importante, porque vai marcar uma nova fase. Se as denúncias forem sustentadas, serão investigadas na CPI e no conselho e eventuais culpados serão punidos ¿ diz o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).

Avaliação de que PT é o alvo da oposição

A reunião da coordenação de governo ontem deu seqüência a uma série de encontros realizados no domingo e que se encerrou na Granja do Torto à noite, quando se encontraram Lula, Dirceu e o presidente do PT, José Genoino. Na ocasião, foi feita uma avaliação da crise política e concluiu-se que o objetivo da oposição é atingir o PT, criando um fosso entre o governo e o partido e arrebentando os partidos aliados, principalmente PTB, PL e PP. Lula queixou-se que os petistas estavam falando demais.

¿ Não vamos aceitar quebrar o PT. Nem aceitar que separem o PT do governo, o governo Lula é maior do que o PT, mas eles estão juntos. Vamos também manter as alianças, pois não se governa o Brasil sem alianças ¿ disse Genoino, mais confiante após a série de reuniões.

Acertada a ação política, o presidente e seus principais assessores estão na expectativa do depoimento de Jefferson. Um auxiliar de Lula disse que todos trabalham com o pressuposto de que Jefferson não tem bala na agulha.

Mesmo assim, o clima é de cautela, pois Jefferson já demonstrou que pode dizer qualquer coisa se achar isso conveniente para evitar uma possível perda de mandato por quebra de decoro parlamentar.

Um dos pontos que preocupam o governo diz respeito ao pagamento de R$4 milhões do PT para financiar candidatos a prefeito do PTB em 2004. O Planalto orientou seus aliados a dizerem que doações para aliados estão previstas no estatuto do PT. Mas a doação teria que estar registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

¿ A estratégia é trabalhar paralelamente à CPI. Queremos dar tranqüilidade para ele falar o que sabe e que poderemos comprovar ao longo das investigações ¿ disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Para os tucanos, a falta de documentos não é tão grave como quer demonstrar o governo.

¿ O fato de não trazer provas documentais não significa que os fatos não existam. Vamos checar as informações ¿ completa o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).