Título: Reforma ministerial é questão de foro íntimo, afirma Lula, adiando mudança
Autor: Gerson Camarotti/Adriana Vasconcelos/Cristiane J.
Fonte: O Globo, 14/06/2005, O País, p. 4

Senador Tião Viana pede que todos os ministros petistas entreguem cargos

BRASÍLIA. Embora já tenha se convencido de que será inevitável fazer ampla mexida em sua equipe para tentar tirar o governo da crise política em que se encontra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu aguardar o depoimento do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), no Conselho de Ética da Câmara e os primeiros passos da CPI dos Correios antes de tomar qualquer decisão. Para evitar pressões dos aliados, Lula abriu ontem a reunião da coordenação política com um recado explícito:

¿ Não vou tratar nesta reunião de reforma ministerial. Não estou aberto a esta pauta. Esta é uma questão de foro íntimo. Esta será uma decisão minha ¿ avisou o presidente, segundo um dos presentes: ¿ Isso é da minha alçada.

Dirceu: ¿Eu não estou querendo sair¿

Em seguida, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, deixou claro que só sai se Lula quiser:

¿ Eu não ponho obstáculo à vontade do presidente. Mas são infundadas as informações publicadas nos jornais de que eu quero sair. Eu não estou querendo sair.

Ao evitar o debate aberto sobre as mudanças que deverá promover no governo, Lula sinalizou que não agirá sob pressão. E não quer passar a impressão de que estaria entregando à oposição aliados de longa data, como Dirceu. O presidente concluiu que se fizesse uma reforma ministerial no meio da turbulência política, estaria cedendo às pressões da oposição.

Ontem à tarde, Dirceu mandou um recado à imprensa:

¿ Minha relação com o presidente é excelente. Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele. Meu trabalho é para que o governo governe. Estou absolutamente seguro e tranqüilo. É importante que se façam com transparência as investigações e vamos defender o governo e o PT ¿ disse Dirceu, por meio de sua assessoria.

Anteontem à noite, em reunião na Granja do Torto, Lula discutiu com Dirceu a possibilidade de sua saída do governo. O presidente deixou a decisão para Dirceu, mas ontem a ordem de Lula foi aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

Viana: gesto de solidariedade ao presidente

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que o governo não pode ficar à mercê do deputado Roberto Jefferson. Na sua opinião, fazer uma reforma ministerial no meio de uma turbulência política é um erro, porque poderia passar à opinião pública que o governo está entregando a cabeça de alguém numa bandeja.

No Senado, porém, o ex-líder da bancada petista Tião Viana (PT-AC) defendeu da tribuna que todos os ministros petistas, com exceção de Antonio Palocci (Fazenda), renunciem a seus cargos, o que facilitaria a decisão de Lula de fazer uma ampla reforma ministerial.

¿ Num gesto de solidariedade ao presidente Lula, acho que todos os ministros do PT deveriam colocar seus cargos à disposição, com exceção do ministro Palocci, que ocupa uma função de Estado estratégica. Além disso, o partido deveria estabelecer um prazo de 60 dias para entregar todos os seus cargos de confiança, que passariam a ser exercidos por técnicos de carreira do serviço público. Neste momento, temos de mostrar desprendimento e agir como um todo ¿ propôs Viana, sem acerto prévio com a bancada.

Surpreendidos pelo pronunciamento de Tião Viana, os líderes governistas descartaram a possibilidade de renúncia coletiva dos ministros petistas.

¿ A mesma voz que nomeia, demite. O presidente não precisa de um gesto como esse para definir sua equipe. E só ele tem autoridade para falar em reforma ministerial ¿ reagiu o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

¿ O Tião Viana ainda não é o presidente da República. Se é para deixar o presidente à vontade, porque a renúncia só dos ministros petistas? ¿ emendou Chinaglia.

No rastro de Tião Viana, a oposição aproveitou para cobrar uma limpeza na equipe ministerial.

¿ Por muito menos, o ex-presidente Itamar Franco afastou o seu amigo e ministro Henrique Hargreaves ¿ lembrou o líder da minoria, senador José Jorge (PFL-PE).

Para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), o presidente precisar sair do imobilismo:

¿ O ministro José Dirceu perdeu as condições de permanecer no governo desde o escândalo Waldomiro Diniz. A sociedade quer agora respostas do presidente e qualquer alternativa que tire o governo do imobilismo será positiva.