Título: `Não deixaremos pedra sobre pedra¿ nas investigações, diz o presidente
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 14/06/2005, O País, p. 5

Lula se diz indignado com a corrupção e pede paciência para esperar apuração

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em seu programa quinzenal de rádio, que ¿não vai deixar pedra sobre pedra¿ nas investigações comandadas pelo Poder Executivo sobre as denúncias de corrupção envolvendo setores do próprio governo e do PT. Lula afirmou que fica indignado com a corrupção existente no país, mas pediu paciência ao povo, argumentando que é preciso esperar o resultado das investigações, porque o presidente da República não tem o poder de pôr pessoas na cadeia.

Por causa de protesto de mulheres de militares, que reivindicam reajuste de 23%, Lula teve que mudar o trajeto e usar outra rua para deixar o Itamaraty, depois de almoço oferecido ao presidente do Congo, Denis Sassou Nguesso. Elas passaram todo o almoço gritando em frente ao prédio e chamaram Lula de covarde quando seu carro não saiu pela rua principal.

¿Disse no Fórum que cortaria na própria carne¿

Num sinal de preocupação com a crise política, Lula dedicou todo o seu programa de rádio ¿Café com o presidente¿ ao tema do combate à corrupção. À tarde, Lula disse estar ¿mais do que tranqüilo¿, referindo-se apenas ao futebol:

¿ Naquilo que for pertinente ao Poder Executivo, não deixaremos pedra sobre pedra. Iremos investigar. Disse no meu discurso no Fórum de Combate à Corrupção que cortaria na própria carne. Porque sou filho de uma mulher que morreu aos 64 anos analfabeta e que dizia para mim sempre o seguinte: o que um homem não pode perder é o direito de andar de cabeça erguida.

Por várias vezes o presidente repetiu que fica indignado com a corrupção, que, ressaltou, não é coisa nova no Brasil.

¿ Como pai de cinco filhos, fico indignado quando fico sabendo que da corrupção se extrai o dinheiro que poderia estar ajudando a desenvolver este país, a fazer mais Bolsa Família, a colocar mais gente na escola. Fico indignado. E quero que o povo saiba que essa indignação já foi transformada em gesto prático desde o primeiro dia de governo ¿ disse, pedindo desculpas pela sua eloquência.

Apesar de afirmar que seu governo tem sido implacável no combate a irregularidades, Lula admitiu que errou ao dizer, quando era líder sindical, que um presidente da República tem poder para prender pessoas:

¿ A Polícia Federal cumpre suas obrigações. A Controladoria Geral cumpre suas obrigações. Agora, as pessoas têm apenas que ter paciência, porque não é o presidente da República que pode colocar alguém na cadeia. Quem coloca na cadeia é a Justiça. Sei que no meio do povo, de vez em quando, as pessoas falam ¿ eu falava isso quando era dirigente sindical ¿ que o presidente tem que prender. O presidente não prende porque não é papel dele.

E falou da sua esperança de uma grande limpeza no Brasil:

¿ Gostaria que um dia o Brasil atingisse o nível que atingiu a operação Mãos Limpas, na Itália ¿ disse Lula, referindo-se à investigação que desbaratou um grande esquema de corrupção naquele país nos anos 90.

À tarde, depois de almoçar com o presidente da República do Congo, Lula falou de seu time, o Corinthians, quando perguntado se estava tranqüilo diante da crise que afeta o governo:

¿ Estou mais do que tranqüilo. E ainda o Corinthians ganhou do Flamengo de 4 a 2!.

¿A política é feita de coisas boas e de coisas ruins¿

O presidente voltou a pedir que o Congresso não fique parado por causa da CPI:

¿ Gostaria de estar aqui discutindo as coisas boas que estão acontecendo. Mas a política é feita de coisas boas e coisas ruins. É importante saber que a corrupção não é uma coisa nova. E, quanto mais se combate a corrupção, mais ela aparece na imprensa. É preciso apurar tudo. Mas é preciso que a gente tome cuidado para não deixar que o Congresso fique só cuidando disso e não aprove as coisas que têm que ser aprovadas, de interesse do Brasil.

Foi o terceiro pronunciamento a respeito da crise. O primeiro foi no Fórum de Combate à Corrupção da ONU e o segundo, pedindo a reforma política.

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