Título: MILITAR DIZ TER 'BOMBA' CONTRA JEFFERSON
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 14/06/2005, O País, p. 10

Arlindo Molina, que está preso, quer a liberdade em troca das denúncias

BRASÍLIA. O militar reformado da Marinha Arlindo Molina, acusado de envolvimento na gravação da fita que revela um esquema de corrupção nos Correios, disse ontem ter uma "bomba para detonar" o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Molina, detido na Polícia Federal, tenta negociar sua soltura em troca de denúncias de corrupção contra Jefferson. A informação foi divulgada pelo advogado do militar, Osmar Ferreira de Paiva.

Indagado se as denúncias contra Jefferson são relativas a casos de corrupção envolvendo o deputado, Paiva respondeu que sim:

- Com certeza. Ele (Molina) teria o que mais para falar?

De acordo com o advogado, Molina conhece muita coisa sobre Jefferson e seria justamente pelo fato de os dois terem um bom relacionamento que o militar reformado teria avisado a Jefferson da existência da gravação, antes de ela ser divulgada. Na gravação, o deputado é apontado como cérebro do esquema nos Correios pelo ex-chefe de Contratação e Administração de Material Maurício Marinho.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal querem agora promover uma acareação entre Jefferson e Molina, segundo o procurador da República Bruno Acioli, um dos encarregados da investigação.

O prazo de prisão temporária de Molina expirou ontem, mas a PF renovou a solicitação à Justiça. Molina teria ficado revoltado ao ver Jefferson declarar que fora vítima de uma tentativa de chantagem. Sua versão é de que tentava apenas avisar ao deputado sobre a existência da fita. De acordo com o advogado, Molina foi conversar com Jefferson acompanhado por um assessor do senador Ney Suassuna (PMDB-PB) e não pelo ex-araponga José Fortuna Neves, que também está preso.

A PF informou que Molina será interrogado novamente hoje. O delegado destacou que o militar omitiu dados sobre sua fonte de renda. Ele teria dito que é representante no Brasil de uma empresa off-shore com sede no Uruguai, mas não soube informar o nome dos sócios. Sua casa no Rio pertence a essa empresa e seu carro está em nome de uma firma que, segundo a PF, não existe formalmente.

Depoimento reforça interesse da Abin no caso

O depoimento do ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) José Santos Fortuna Neves à PF reforçou as suspeitas sobre o interesse de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas gravações do escândalo dos Correios. Fortuna disse que vinha mantendo contato com um agente da Abin antes da divulgação das gravações.

A Abin sustenta que só começou a investigar a corrupção nos Correios cinco dias antes de o caso vir à tona. A agência só admitiu que acompanhava o caso na sexta-feira passada, um dia depois de a imprensa divulgar que a PF vinha investigando o suposto envolvimento de agentes da inteligência nas gravações. Ex-capitão da Polícia Militar de Minas Gerais, Fortuna sustenta que teve pelo menos quatro encontros com Edgar Lange, o Alemão, agente do Departamento de Operações da Abin.

Os dois, que não se viam há dez anos, voltaram a se encontrar em fevereiro, num shopping de Brasília. Depois desse encontro, aparentemente casual, Alemão e Fortuna se reuniram na sede da Atrium, empresa do capitão. No meio da conversa, Alemão sondou Fortuna sobre os Correios.

"Essa visita (de Alemão) à Atrium ocorreu muito tempo antes da divulgação da gravação dos Correios pela revista 'Veja'. Nesse encontro, Alemão questionou se o declarante (Fortuna) conhecia a estrutura da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos)", diz um trecho do depoimento de Fortuna ao delegado da PF Luís Flávio Zampronha.

O procurador da República Bruno Acioli afirmou ontem que vai requisitar, pela segunda vez, os relatórios da Abin sobre o caso dos Correios. O procurador disse que já pediu os documentos uma vez, mas que até agora a Abin não atendeu à solicitação.

Legenda da foto: ARLINDO MOLINA, que ameaça fazer novas denúncias contra Jefferson