Título: DESACELERAÇÃO CHEGA AO BNDES
Autor: Ramona Ordoñez e Mirelle de França
Fonte: O Globo, 14/06/2005, Economia, p. 19

Desembolsos do banco cresceram apenas 7% até maio. Resultado frustrou Mantega

Os desembolsos do BNDES já refletem os efeitos da desaceleração da economia, em razão da alta dos juros e da forte seca no Sul, que afetou o agronegócio. Nos cinco primeiros meses deste ano, o banco liberou apenas 7% mais verba do que no mesmo período de 2004 - atingindo R$15,1 bilhões. O desempenho frustrou o presidente do BNDES, Guido Mantega, que esperava um aumento de 20%. Além disso, o número de consultas ao banco no período - que mede a disposição das empresas em fazer novos investimentos - cresceu apenas 2%.

Se o setor agrícola sentiu mais - a agropecuária teve uma redução de 30% nos desembolsos e a liberação para a agroindústria caiu 33% - a indústria em geral mostra que está mantendo investimentos.

Para metalurgia, 71% a mais

Os desembolsos para projetos da indústria subiram 23% nos cinco meses, para R$7,5 bilhões.

- E a indústria é um indicador importante do nível de crescimento da economia - ressaltou Mantega, ao destacar que o setor de metalurgia teve um aumento de 71% nos desembolsos, o de mecânica, de 70% e o de material de transporte terrestre, de 99%.

Segundo Mantega, a queda no setor agrícola se deve, em grande parte, à forte seca e à redução da tomada de empréstimos para compra de máquinas e equipamentos agrícolas. Por outro lado, houve também um número pequeno de pedidos das empresas de energia elétrica.

Para o economista José Cezar Castanhar, o principal foco do banco ainda são as operações de grande porte (ligadas às empresas maiores), que são as primeiras a serem afetadas pela desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB):

- Embora a TJLP (taxa de juros de longo prazo, usada nos financiamentos do BNDES) não tenha ligação direta com a Selic (taxa básica de juros), os juros altos afetam o tomador final de alguma forma. As grandes empresas são as primeiras a frearem a tomada de empréstimos na perspectiva de desaceleração, o que reflete nos resultados do banco.

O economista completa que, apesar dos esforços do BNDES, as micro, pequenas e médias empresas ainda têm acesso reduzido ao crédito. Para Castanhar, o banco deve ampliar o crédito para as empresas de menor porte e, assim, impulsionar o volume de desembolsos.

Na opinião de Mantega, a economia brasileira vai voltar a crescer em um ritmo maior no segundo semestre deste ano. Para o presidente do BNDES, com a inflação sob controle os juros deverão cair e, com isso, os empresários voltarão a ficar otimistas e aumentarão seus investimentos. Para mostrar seu otimismo em relação à segunda metade do ano, Mantega disse que somente em maio os desembolsos totalizaram R$3 bilhões, 70% a mais do que em igual mês do ano passado.

Ao falar sobre o desempenho do banco nos cinco primeiros meses do ano, Mantega destacou que o volume de projetos enquadrados totalizou R$34,4 bilhões, 40% a mais do que os R$24,5 bilhões em igual período no ano passado.

Mantega espera juro menor este mês

O presidente do BNDES afirmou também que, no ano passado, a economia cresceu a um ritmo muito forte, que não poderia continuar neste ano nos mesmos níveis, sem comprometer as taxas de inflação.

O controle da inflação é um importante sinal, segundo Mantega, de que a economia vai voltar a crescer fortemente no segundo semestre. Isso porque, de acordo com ele, com a inflação controlada a política do governo deverá ser a de reduzir os juros, possivelmente já a partir deste mês.

- Se os juros forem reduzidos, vai se dar uma sinalização positiva para os empresários voltarem a investir. Eles vão ver que a luta contra a inflação foi ganha e terá diversos sinais positivos da economia - disse Mantega, que acredita que o PIB vai crescer entre 3% a 4% neste ano.

inclui quadro: um termômetro da economia