Título: AMÉRICA DO SUL INVESTIRÁ EM REDE DE GASODUTOS
Autor: Mônica Tavares
Fonte: O Globo, 14/06/2005, Economia, p. 21

Objetivo da obra, que é orçada em US$2,5 bilhões e tem apoio do BID, é garantir abastecimento de gás na região

BRASÍLIA. A América do Sul quer construir uma rede interligada de gasodutos para garantir a segurança do abastecimento do produto às principais economias da região. Para desenvolver um plano estratégico, ministros de Economia e Energia de Brasil, Argentina, Chile, Peru e Uruguai se reuniram ontem em Lima, capital peruana, e criaram um grupo de trabalho. A obra, orçada em US$2,5 bilhões, tem apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A ministra de Minas e Energia do Brasil, Dilma Rousseff, participou do encontro, que reuniu, à exceção da Bolívia, os principais produtores e consumidores de gás do continente. A proposta de trabalho conjunto será apresentada na Cúpula do Mercosul, em Assunção, capital paraguaia, em 20 de junho.

O primeiro passo, segundo técnicos do governo brasileiro, seria a construção de dois trechos para interligar gasodutos já existentes. O primeiro fica entre Uruguaiana e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, com 500 quilômetros. Esta é a porta de entrada no Brasil do gás da Argentina, que já tem ligações com Chile e Uruguai. O segundo trecho é a ligação entre Peru e Chile, com 1.200 quilômetros.

A reunião de Lima acontece no momento em que a Bolívia, um dos maiores produtores de gás natural da região, enfrenta séria turbulência política, com grupos pedindo a estatização da exploração e produção de petróleo e gás natural. Uma das empresas mais prejudicadas seria a Petrobras, que tem investimentos de quase US$1,5 bilhão na Bolívia.

Recentemente, o Congresso boliviano aumentou os impostos sobre a produção de petróleo e gás, o que poderá inibir novos investimentos da Petrobras. Outro problema é que mais da metade do gás natural consumido no Brasil vem da Bolívia.

Participação da Bolívia ainda é uma incógnita

As obras ficarão a cargo de empresas públicas e privadas. Nota conjunta divulgada em Lima pelos representantes dos países informa que o "BID apóia esta iniciativa, comprometendo-se a prestar assistência técnica e financeira".

Os países não deixam claro se a Bolívia participará do grupo. Não havia representantes bolivianos na reunião, nem da Venezuela. Na nota, os ministros afirmam que a iniciativa não exclui outros projetos de gás na região e que seus governos sabem da conveniência de integrar a Bolívia ao plano.

A nota afirma ainda que o objetivo do gasoduto é "expandir os mercados, reduzir os riscos da indústria de gás e compartilhar as experiências econômicas promovendo a transferência de tecnologia entre nossos países".

O gás natural será uma das prioridades da 7ª Rodada de licitação para exploração e produção de petróleo da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em outubro.

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Legenda da foto: DILMA ROUSSEFF e Alejandro Toledo (ao centro), presidente do Peru, deixam a reunião de ministros em Lima