Título: Alta dos juros pode adiar investimentos e pôr em risco crescimento econômico
Autor: Aguinaldo Novo e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 21/10/2004, Economia, p. 22

A elevação da Taxa Selic de 16,25% para 16,75% ao ano foi equivocada e põe em risco a reativação do mercado interno que começou a ser esboçada nos últimos meses. Esta é a avaliação de empresários e sindicalistas sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Segundo eles, não há ameaça de descontrole da inflação.

¿ Os últimos índices mostraram queda. Ao elevar a Selic, o governo arrisca perder a produção e o investimento que o empresário programava para 2005 ¿ afirmou o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio de Almeida.

Para o presidente em exercício da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Moreira Ferreira, a alta é danosa à produção. Ele lembrou que alguns setores estão hoje próximos do limite de sua capacidade instalada, mas ¿ainda há espaço para crescer¿:

¿ O aperto da política monetária passa sinais negativos a decisões de investimento, podendo, aí sim, gerar problemas futuros de falta de capacidade.

Luiz Marinho, presidente da CUT, disse que a alta é inacreditável. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf ¿ cuja candidatura teve apoio de integrantes do governo ¿ evitou críticas diretas ao BC e afirmou que trabalhadores e empresários devem se mobilizar para participar de decisões nacionais:

¿ Precisamos ser proativos para mostrar que é questionável manter juro elevado num mercado distante de qualquer risco de inflação de demanda.

Parlamentares de oposição e governistas criticaram alta

A alteração deve mexer com o bolso do consumidor. Simulação da Anefac, que reúne executivos de finanças, indica que os juros subirão na média 0,52%, se a alta da Selic for repassada ao consumidor: de 7,65% para 7,69% ao mês. Nas financeiras, as taxas poderão chegar a 12,19% ao mês.

Parlamentares governistas e da oposição consideraram a decisão uma ducha de água fria no setor produtivo. O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), disse que o Copom tem ¿uma cultura de rigor fiscal e monetária inadmissível¿. O deputado do PCdoB Sérgio Miranda (MG) considerou a decisão uma aberração. Já para o deputado ACM Neto (PFL-BA) falta coragem ao governo para ousar. A ex-ministra do Planejamento Ieda Crusius (PSDB-RS) disse que o governo tem medo de deixar o Brasil crescer.

A alta de 0,5 ponto percentual teria surpreendido o presidente Lula, que, segundo assessores próximos, já havia compreendido a necessidade de elevar a taxa em 0,25 ponto. Para o presidente, o BC teria tomado uma decisão cautelosa temendo uma alta na inflação em 2005, mas, em conversas reservadas, Lula teria dito que não considera que a inflação está fora de controle.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, minimizou o impacto da alta:

¿ Tenho dito aos empresários: esqueçam o Copom. COLABORARAM Gerson Camarotti e Valderez Caetano