Título: Mercosul e UE prorrogam negociação
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 21/10/2004, Economia, p. 23

Diante do impasse nas discussões para criar a maior área de livre comércio do mundo, os representantes do Mercosul e dos 25 países da União Européia (UE) conseguiram ontem pelo menos prorrogar o prazo previsto para o acordo e garantir a continuidade das negociações. Ficou acertado que no fim do ano será realizada uma reunião entre os coordenadores dos dois blocos, para preparar um encontro ministerial no primeiro trimestre de 2005.

¿Ambos os lados identificaram vários pontos em que estariam dispostos a mostrar maior flexibilidade¿, diz a nota divulgada ontem pelo Ministério do Exterior de Portugal, onde foi realizada a reunião. ¿Embora tenha ocorrido avanço nesta rodada, eles também concordaram que há muito ainda a ser feito para que se alcance o nível de ambição que reflita a importância desse acordo estratégico entre a UE e o Mercosul¿.

Acordo formará a maior área de livre comércio do mundo

Já o comissário de Comércio europeu, Pascal Lamy, disse que um acordo poderia ter sido alcançado, mas ambas as partes viram que seria melhor continuar as negociações:

¿ Afinal, trata-se de criar a maior área de livre comércio do mundo.

Há mais de cinco anos, os países do Mercosul vêm tentando fechar um acordo com a UE. Um acerto representaria a criação de um mercado de 680 milhões de pessoas e daria um forte impulso ao comércio bilateral, cujo volume gira hoje em torno de US$ 40 bilhões por ano. Representantes brasileiros e da UE haviam dito recentemente que seria difícil chegar a um consenso até o fim de outubro, como estabelecia o calendário original.

As negociações estão emperradas em áreas consideradas essenciais, tais como as de agricultura e bens industriais.

O adiamento frustrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nos últimos dias empenhou-se para conseguir um entendimento. Usando seu prestígio político, Lula conversou, na semana passada, com os presidentes da França, Jaques Chirac; da Espanha, José Luis Zapatero; de Portugal, Jorge Sampaio; e com o chanceler alemão, Gerhard Schröder.

Negociações retrocederam nas últimas rodadas

Na véspera da reunião de Lisboa, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, dizia que o Brasil já contava com o firme apoio da Espanha e de Portugal. Ele acrescentou que a Alemanha também via com bons olhos o acordo, assim como os empresários europeus em geral. No caso do setor produtivo da UE, Furlan chegou a essa conclusão depois de se reunir, há alguns dias, com dirigentes da União Industrial da Europa.

¿ Ainda apostamos todas as fichas num acordo entre o Mercosul e a União Européia ¿ disse Furlan.

Mas à medida que as negociações aproximavam-se do fim do prazo, ficaram mais conturbadas. No mês passado, em represália à nova oferta apresentada pelo Mercosul, a UE decidiu retroceder em sua proposta, reduzindo as cotas de importação de carnes e o acesso aos mercados. (*) Com agências internacionais