Título: Secretária afirma ter presenciado negociatas
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Fonte: O Globo, 15/06/2005, O País, p. 9

Ex-auxiliar de publicitário diz que o patrão fez transações com Delúbio, Silvio Pereira, Dirceu, Adauto e João Paulo

SÃO PAULO. Em entrevista à revista "IstoÉ Dinheiro" que chegou ontem às bancas, Fernanda Karina Ramos Somaggio, secretária do publicitário Marcos Valério de Souza entre abril de 2003 e janeiro de 2004, relata supostas negociatas entre o ex-patrão e nomes importantes do PT e do governo, como o tesoureiro Delúbio Soares, o secretário-geral Silvio Pereira, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, o ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto; o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e até o tucano Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique.

Secretária diz que registrou tudo em agenda

Karina afirma ter registrado tudo em uma agenda com datas, horários e valores. Segundo ela, Marcos Valério, sócio das agências SMP&B e DNA, que têm as contas do Banco do Brasil e dos Correios, sacava grandes quantidades de dinheiro no Banco do Brasil e no Banco Rural e entregava em espécie aos políticos. Além disso, presenteava integrantes do governo e do PT com passagens aéreas e festas animadas por prostitutas.

"Marcos Valério dá muitas festas para eles, muitos paparicos, muitos mimos. (Acompanhantes) também tinha nas festas. Era festa só para homem", diz ela na reportagem.

O dinheiro, segundo Karina, saía de agências do Banco do Brasil e do Banco Rural em Belo Horizonte e era dividido entre os integrantes do esquema.

"Vi sair muito dinheiro de lá. Vi o boy sair com motorista para tirar R$1 milhão do Banco Rural. Era para depois dividir o dinheiro, entendeu? Tem o Rural, que faz essa parte, e tem o Banco do Brasil, que faz a parte mais lícita da história", contou ela à revista.

Ao depor no Conselho de Ética da Câmara, o deputado Roberto Jefferson disse ter recebido R$4 milhões do PT em notas de R$50 e R$100 etiquetadas pelos bancos do Brasil e Rural.

"O Banco Rural tem problemas com a CPI do Banestado. Quem estava sendo investigado era o José Augusto Dumont, ex-presidente do banco, que morreu num acidente. Delúbio estava sempre com ele e com José Mentor (relator da CPI do Banestado)", disse Karina à revista.

De acordo com a secretária, a origem do dinheiro eram licitações forjadas para contas publicitárias do Banco do Brasil.

"Todo mundo sabe que tem mutreta no fato de a empresa (SMP&B) ter um bom dinheiro do Banco do Brasil. É tudo negociata. Sei que eles passam dinheiro para o pessoal do governo. Quando você entra numa concorrência já sabe quem vai ganhar e quem não vai", contou Karina na reportagem.

Segundo ela, Dirceu falava diretamente com Marcos Valério. Karina acrescentou que o publicitário dava passagens aéreas e fez a campanha de João Paulo para a presidência da Câmara. E disse também ter visto uma mala de dinheiro sendo despachada para o irmão de Adauto. Segundo ela, o esquema começou antes do governo Lula.

"Houve um pagamento de R$150 mil para Pimenta da Veiga, dividido em duas contas. A coisa não começou só agora, com o PT", disse Karina à revista.

Legenda da foto: A ENTREVISTA DE Karina no site da "IstoÉ Dinheiro": a secretária disse que o dinheiro saía de dois bancos