Título: TENSÃO NO GOVERNO SE DESFAZ APÓS O DEPOIMENTO
Autor: Maria Lima, Isabel Braga e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 15/06/2005, O País, p. 12

Para Planalto, discurso foi contundente mas algumas teses caíram

BRASÍLIA. A apreensão, embora disfarçada, era grande ao longo do dia e nas primeiras horas da tarde, com o início do depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), mas o governo Lula terminou o dia respirando aliviado. A avaliação comum no centro do poder era de que o discurso inicial de Jefferson foi contundente, mas ele não apresentou provas além de seu testemunho e teve algumas de suas teses desmontadas ao longo do debate com os deputados do Conselho de Ética.

Ficou caracterizado para o governo que ele foi bem do ponto de vista do espetáculo retórico, mas que no mérito ele não tem nada para apresentar. Ao longo da sessão, sobretudo diante das perguntas feitas pelo relator, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), e pelas intervenções dos deputados Gustavo Freut (PSDB-PR) e Raul Jungmann (PPS-PE), saiu fortalecida a convicção do Planalto de que a oposição está empenhada em atingir o presidente da República.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo assessores, não assistiu ao depoimento de Jefferson, nem acompanhou pelo rádio. Lula foi informado do seu teor pelo porta-voz André Singer. Pela manhã, Lula teve uma reunião sobre a área social e participou de uma cerimônia sobre educação. Depois, almoçou com dona Marisa na Granja do Torto. À tarde, voltou a mostrar normalidade na agenda, participando, no Planalto, de reunião da Junta Orçamentária com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), e ainda recebeu o presidente da Transpetro, Sergio Machado, o empresário Abílio Diniz, e a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia).

Ministros deram informações para Mabel

Os ministros do Planalto assistiram ao depoimento em seus gabinetes e a partir das 19h fizeram uma avaliação conjunta. Eles deram ao líder do PL, Sandro Mabel (GO), os dados que permitiram que ele contestasse afirmações de Jefferson.

Os ministros ficaram impressionados com a fome com que a oposição se atirou na tentativa de transformar o Conselho de Ética numa CPI contra o governo. Observaram que o relator, discípulo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), só fez perguntas procurando abordar a relação de Jefferson com Lula e ministros do governo.

O Planalto reagiu diante das declarações de Jefferson de que Dirceu deveria sair do governo para não transformar o presidente em réu. Assessores de Dirceu desmentiram boatos de que o ministro estava deixando o governo. Dirceu fez questão de participar da cerimônia da educação, na qual Lula o chamou de "meu querido companheiro" e distribuiu sorrisos.