Título: MICHAEL JACKSON: MENINOS NA CAMA, NUNCA MAIS
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Fonte: O Globo, 15/06/2005, O Mundo, p. 35

Advogado do cantor afirma que seu cliente vai mudar o comportamento e deixará de dormir com crianças

SANTA MARIA, Califórnia. Advogado de defesa de Michael Jackson, Thomas Mesereau disse ontem que o comportamento de seu cliente vai mudar, agora que ele foi inocentado em todas as dez acusações de um caso relacionado a abuso sexual de um menino de 13 anos. Segundo Mesereau, o cantor não vai mais dividir a cama com meninos.

- Ele não voltará a fazer isso - disse o advogado, acrescentando que Jackson não se colocaria novamente numa situação que o tornasse vulnerável.

Há anos o cantor tem sido envolvido em acusações de pedofilia, mas o processo encerrado anteontem teve origem num documentário em que ele aparecia segurando a mão de um menino e dizia que compartilhava a cama com crianças, sem intenção sexual. Era o menino cuja família depois o processaria.

O advogado disse ter ficado muito preocupado com seu cliente durante os quase quatro meses do julgamento.

- Ele emagreceu muito e não conseguia dormir. Conversávamos às vezes às três, quatro horas da manhã - afirmou.

Site de Jackson compara absolvição a fatos históricos

Mesereau descreveu Jackson como uma pessoa "de bom coração" e "com jeito de criança". Disse que ele precisa ser "mais rígido em relação às pessoas que deixa entrar em sua vida".

- Ele permitiu que famílias entrassem em sua vida, não apenas meninos novos. Os pais deles tiveram permissão para permanecer por perto, e o fizeram. Tudo foi feito com a permissão dos pais - afirmou. - Eles tiveram permissão para entrar e sair de seu quarto. A promotoria tentou interpretar mal o que Michael Jackson fez e fracassou, como tinha que ter sido.

Jackson ficou ontem em casa, sem dar declarações. Em seu site, exibiu a declaração do júri que o inocentou e comparou sua absolvição a acontecimentos históricos, como a queda do Muro de Berlim, a libertação do líder sul-africano Nelson Mandela e o nascimento do líder negro Martin Luther King.

Raymond Hultman, um dos 12 jurados que o inocentaram, disse que o julgamento serviu para Jackson acordar e mudar seu comportamento.

- Não tenho problema com a decisão que tomei no caso - afirmou - Tenho um problema com o comportamento de Michael Jackson. E tudo o que posso dizer a esta altura é que espero que ele reconheça que isto é um problema sério e que seu comportamento será afetado de alguma maneira por isso.

Paul Rodriguez, representante dos jurados, disse que eles ficaram muito preocupados com o fato de Jackson admitir passar a noite com crianças. Mas acrescentou que eles foram orientados pelo juiz a basear os veredictos em provas, e não em crenças ou suposições.

Apesar da absolvição, os problemas de Jackson estão longe de acabar. Suas dívidas chegariam a US$270 milhões e, segundo a CNN, seus custos legais nos últimos anos chegam a US$20 milhões. O cantor gasta muito mais dinheiro do que ganha (fez mais de 60 modelos de roupa para suas aparições no tribunal) e há anos não grava um disco de sucesso. Os danos do processo à sua imagem foram considerados irreversíveis.

- A marca Michael Jackson está efetivamente morta. Não há um segundo grito de vitória e Michael Jackson nunca vai se recuperar desse escândalo - comentou Ronn Torossian, presidente da 5W Public Relation, empresa de relações públicas em Nova York.

Já o veterano advogado do setor de música Londel McMillan afirmou:

- É uma batalha difícil. Culturalmente, ele nunca será o Michael Jackson que conhecíamos.

A imprensa americana e internacional especulou ontem sobre o futuro de Jackson. O título de uma reportagem do "New York Times" era: "Um difícil caminho pela frente para reencontrar a glória". Mais crítico, o "Los Angeles Times" disse em editorial que sua carreira está em perigo e, em análise, que o depoimento da mãe do menino acusador foi um desastre. Já o "Washington Post" aconselhou Jackson a se mudar para a Europa e disse que "a absolvição não lava seu nome, mas apenas torna as águas um pouco mais turvas". Para o "USA Today", "ser estranho não é delito nos EUA".

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