Título: SERRAGLIO: INVESTIGAÇÃO É SOBRE OS CORREIOS
Autor: Adriana Vasconcelos e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 16/06/2005, O País, p. 3

Oposição poderá enfrentar dificuldades para ampliar apuração de denúncias do mensalão

BRASÍLIA. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), mostrou ontem que será contra a apuração do esquema do mensalão na comissão. Com 84 requerimentos de depoimentos, quebras de sigilo e outras diligências para investigar o governo já protocolados na CPI, a oposição poderá enfrentar dificuldades para ampliar a apuração das denúncias de que havia pagamento de uma mesada de R$30 mil aos deputados da base aliada. Embora os tucanos já tenham apresentado requerimento para que o chefe da Casa Civil, José Dirceu, seja convocado para depor, Serraglio disse ainda que não considera necessário seu depoimento neste momento porque o ministro não está envolvido no caso dos Correios.

- Acho que ainda não é o momento, porque vamos concentrar as investigações nos Correios. Mas, a priori, ninguém está excluído. Nem ministros - disse Serraglio.

Marinho será primeiro a depor, na próxima terça-feira às 18h

Flagrado em um vídeo cobrando propina e dizendo que arrecadava recursos para o PTB, o ex-chefe do departamento de contratações dos Correios Maurício Marinho será o primeiro convocado para depor, na terça-feira, às 18h. A CPI deve requisitar também cópias de contratos e licitações feitas pelos Correios e das outras gravações que teriam sido feitas com Marinho ainda nos Correios. Segundo o relator, apenas uma foi ao ar, mas outras duas teriam sido gravadas sem muita qualidade.

Serraglio deve pedir um parecer jurídico para saber se o suposto pagamento a deputados pode ser investigado numa CPI composta também por senadores. Para ele, esse assunto só será investigado se a CPI encontrar provas ou indícios de que o dinheiro da mesada veio dos Correios:

- Isso é uma questão jurídica que precisamos tirar a limpo. A dúvida é se senador pode participar de CPI que investiga deputado.

No primeiro momento, segundo Serraglio, devem ser ouvidos os ex-dirigentes da estatal envolvidos no caso. Já existem requerimentos apresentados pelo PSDB para a convocação do ex-presidente dos Correios João Henrique Almeida.

Os tucanos, representados na comissão pelos deputados Eduardo Paes (RJ) e Gustavo Fruet (PR), porém, já pediram a convocação do presidente do PT, José Genoino, e dos dirigentes petistas Delúbio Soares e Silvio Pereira. O PSDB pretende convocar ainda o líder do PP na Câmara, José Janene; o empresário Mauro Dutra, que tem empresas no setor de informática e teria participado de licitações nos Correios, e o general Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que comanda a Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Jefferson pode não ser convocado na primeira fase dos trabalhos

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, autor das denúncias, pode não ser ouvido nesta primeira fase.

- Não é espírito de postergação, mas temos de ter racionalidade para não ter de reproduzir atos que fizemos quando não estávamos preparados para fazê-los - afirmou Serraglio.

O relator não descartou, entretanto, a aprovação no futuro de requerimentos para a quebra dos sigilos bancários de Jefferson e de Delúbio, tesoureiro do PT. (Bernardo de la Peña).

TRADIÇÃO QUEBRADA

Ao conseguir pôr aliados tanto na presidência como na relatoria da CPI dos Correios, o governo quebrou uma tradição que vinha garantindo um dos cargos para os governistas e o outro, para a oposição, sempre com rodízio. As muitas CPIs, que já investigaram desde o tráfico de órgãos até o contrato da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com a Nike, sempre respeitaram esta alternância. A CPI do Orçamento, que investigou em 1993 as falcatruas cometidas pelos deputados-anões na Comissão de Orçamento do Congresso, teve o senador Jarbas Passarinho (do extinto PPR-PA) como presidente e o deputado Roberto Magalhães (PFL-PE) como relator.

Uma das mais famosas, a CPI do PC Farias, que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor, teve Benito Gama, então do PFL-BA, na presidência e Amir Lando (PMDB-RO) na relatoria. Indicado por Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), um dos principais aliados de Collor, Benito mudou de lado e facilitou o trabalho da oposição. Lando foi escolhido porque nenhum dos líderes do PMDB aceitou a tarefa.

Na CPI do Banestado, instalada em 2003, o presidente escolhido foi o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), da oposição, e o relator, deputado José Mentor (PT-SP), do partido do governo Lula.