Título: EMPRESÁRIO QUE MANDOU GRAVAR DENUNCIA FRAUDES
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Fonte: O Globo, 16/06/2005, O País, p. 8

Delegado da PF diz que passará a investigar contratos dos Correios

BRASÍLIA. Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Artur Wascheck Neto, que admitiu ser o mandante da gravação do flagrante de corrupção nos Correios, afirmou ter informações de que várias empresas forneciam produtos à estatal fora do especificado, e que só não eram desclassificadas nas licitações por interferência do então chefe de Contratação e Administração Maurício Marinho.

O delegado Luís Flávio Zampronha disse que, a partir de agora, a Polícia Federal vai se concentrar nas investigações sobre as fraudes nos contratos dos Correios. Segundo ele, a apuração sobre os envolvidos nas gravações do suborno está praticamente encerrada.

Wascheck não disse que empresas contavam com a benevolência do servidor. "Tinha conhecimento de que várias empresas forneciam produtos totalmente fora das especificações e tinham cobertura de Maurício Marinho", diz ele num trecho do depoimento.

Segundo ele, "Maurício Marinho tentava de todas as formas pressionar outros setores da ECT para que aceitasse os produtos fornecidos fora das especificações, quando utilizava sua influência de chefe".

Sentindo-se prejudicado, Wascheck decidiu armar o flagrante. Para isso contratou o ex-araponga Jairo Martins, encarregado de prestar assessoria técnica, e chamou o consultor Joel dos Santos Filhos, que fez a gravação.

O empresário disse que, após ver o conteúdo da fita, procurou o militar reformado da Marinha Arlindo Molina. O militar, que está detido na PF em Brasília, prestou novo depoimento ontem e, diferentemente do que anunciara seu advogado, não fez revelações comprometedoras contra o deputado Roberto Jefferson.

- Por enquanto ele não vai falar nada. Inclusive ele me desautorizou a falar qualquer coisa - disse o advogado.

Ontem, o delegado da PF convidou Jefferson para depor. Só falta agora o deputado marcar a data, o horário e o local. Zampronha quer saber especialmente por que, em seu discurso, Jefferson citou o nome do ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) José Santos Fortuna Neves, preso desde quinta-feira passada. Até agora a polícia não informou a relação entre Fortuna e as gravações do suborno de Marinho.