Título: LULA: 'QUERO SER MEDIDO SÓ NO FIM'
Autor: Cristiane Jungblut e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 16/06/2005, O País, p. 11

Presidente faz afagos publicamente em Dirceu, que deve deixar cargo

BRASÍLIA. Na cerimônia em que lançou o pacote de benefícios fiscais para estimular exportações e novos investimentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso de forte apelo político para uma platéia formada, em sua maioria, por empresários brasileiros de grande porte. O presidente disse que só admite ser avaliado no fim de seu mandato, desafiou qualquer um a provar que seu governo não foi o que mais fez pelo Brasil e, sempre que citava os responsáveis pelo pacote de benefícios, incluía o ministro da Casa Civil, José Dirceu, um dos principais alvos das denúncias feitas pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson.

- Quero ser medido a partir do dia em que terminarmos o governo. Podem fazer a comparação com todos os outros que vieram antes de nós. E vamos ver em todas as áreas, em todas, sem distinção, quem é que fez mais por este país, quem é que consolidou as políticas corretas para este país - afirmou Lula, batendo com a mão na tribuna enquanto discursava.

Aplaudido diversas vezes, Lula aproveitou para mandar um recado aos críticos que, segundo ele, torcem para que o governo não dê certo.

- Fomos eleitos para criar o novo ciclo de desenvolvimento neste país e sei que isso deixa muita gente nervosa. Sei que gostariam que não tivesse dado certo, que o Brasil estivesse quebrado - disse o presidente. - Não vamos tomar medidas intempestivas. Vamos gastar apenas o que se pode, e não aquilo que os interesses eleitorais gostariam que se gastasse.

Lula faz apelo para que o Congresso não pare

Pelo segundo dia consecutivo, Lula fez um apelo ao Congresso para que os parlamentares aprovem, sem demora, projetos voltados para o desenvolvimento do país. De bom humor, o presidente brincou fazendo uma alusão à famosa rigidez da área econômica com incentivos fiscais:

- Se medidas como essas que anunciamos agora ficarem enrolando oito, nove meses, foi em vão o trabalho de convencimento sobre o Rachid (Jorge Rachid, secretário da Receita Federal). As pessoas pensam que o Palocci é que é duro. O Palocci é uma seda.

O presidente disse que a grande característica de sua administração é conversar com todos os setores, independentemente da resposta que o governo vai dar. Ele garantiu que o ciclo de crescimento será mantido, mesmo com as dificuldades enfrentadas pelo Brasil.

- Todo mundo sabe que ainda temos vulnerabilidade. Todo mundo sabe que, para conquistar a confiabilidade de investidores, de empresários, não basta ter os olhos verdes ou os cabelos brancos - afirmou, acrescentando em seguida: - Se tivermos que cometer um pecado original, vamos cometer o pecado original de ouvir sempre a todos, porque assim diminuem as possibilidades de errarmos.

Lula finalizou seu discurso parabenizando toda a sua equipe. O presidente citou, especificamente, os nomes dos ministros da Fazenda, Antonio Palocci; do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan; da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos; e da Casa Civil, José Dirceu. Lula mencionou Dirceu três vezes em sua fala.