Título: MAIS UMA DENÚNCIA DE SUBORNO NO PP
Autor: Valderez Caetano e Maria Lima
Fonte: O Globo, 16/06/2005, O País, p. 12

Ex-deputado diz que cúpula do partido queria que ele cedesse cargo a senador

BRASÍLIA. A troca de acusações da cúpula do PP abriu uma crise no partido do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PE). Na esteira do escândalo do mensalão, as denúncias do PP também envolvem um suposto esquema de caixa dois. De um lado, o secretário-geral do partido, ex-deputado e ex-vice-governador Benedito Domingos (DF) acusa a cúpula do partido de oferecer dinheiro para ele ceder o cargo de presidente do diretório regional do PP no Distrito Federal ao senador Valmir Amaral (DF).

Líder do PP diz que Benedito pediu dinheiro

Na outra ponta, o líder da legenda na Câmara, José Janene (PP-PR), denunciou que foi Benedito quem cobrou do senador Valmir Amaral para ceder o comando do PP. A executiva do PP destituiu ontem Benedito do cargo. O partido deve analisar sua expulsão nos próximos dias, segundo Janene.

Na versão de Benedito, o deputado Pedro Henry (MT) teria oferecido "ajuda financeira" para que ele não criasse dificuldades para o senador do PP assumir o diretório regional. A conversa teria ocorrido no gabinete de Henry a pedido de Janene e do presidente do partido, Pedro Corrêa (PE). Benedito, porém, nega ter participado ou sabido do esquema de distribuição de mensalão para deputados do partido no apartamento de Janene, como noticiado ontem.

Mas ele confirmou que Janene costumava socorrer deputados do partido quando eles tinham problemas financeiros.

- Janene era o pronto-socorro de alguns deputados do PP. Isso é público. Uma coisa eu sei: esse dinheiro não vinha do caixa do partido, porque o PP não tem verba para ajudar deputado. Eles tentaram me comprar, mas não dei espaço. Jamais venderia a minha dignidade - disse Benedito.

Janene: secretário-geral falsificou ata de reunião

Os deputados Pedro Corrêa, Pedro Henry e José Janene negam a versão de Benedito. Segundo Janene, o secretário-geral do PP teria falsificado uma ata de reunião do partido para permitir a sua recondução ao cargo de presidente regional. O líder diz ainda que a raiva de Benedito foi provocada pela demissão de um neto, uma nora e dois afilhados políticos seus de cargos comissionados da Câmara.

Janene afirma que Benedito pediu dinheiro ao senador Valmir Amaral. Procurado ontem pelo GLOBO, Amaral não retornou a ligação. O líder do PP nega o esquema de pagamento de mensalão em seu apartamento:

- A minha casa é muito freqüentada por deputados. Eles apelidaram meu apartamento de pensão. Às terças e quartas recebo até 30 deputados para almoçar e jantar na minha casa. Se esse encontro ocorresse só uma vez por mês, faria algum sentido essa versão.

Ontem, o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa, fez um apelo para que Benedito voltasse atrás nas acusações. Ele comunicou que estava colocando à disposição o seu sigilo fiscal e bancário.