Título: BELINE, UM ADVOGADO QUE JÁ CONHECE O BANCO DOS RÉUS
Autor: Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 16/06/2005, Economia, p. 27
Indiciado por envolvimento em sentenças suspeitas, ele é milionário
Especialista em defender sonegadores, Beline José Salles Ramos, preso ontem no Espírito Santo, é um advogado de causas polêmicas e hábitos extravagantes. Indiciado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no processo que investiga três juízes federais de segunda instância no Rio (José Ricardo Siqueira Regueira, Ivan Athié e Francisco Pizzolante), ele é acusado de ajudar sonegadores a quitar débitos federais com moedas podres, entre as quais papéis do Tesouro do século retrasado.
Na denúncia, o Ministério Público Federal alegou que Beline lançou mão de artifícios como a troca de número dos processos para fazer com que as ações de validação dos títulos chegassem às mãos de Athié e Regueira. À época, Athié era titular da 4ª Vara Federal de Vitória e Regueira, juiz no Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Os cofres públicos são alvos antigos de Beline. Em 1998, o advogado requereu, para um estivador de Vitória, o direito de sacar o FGTS. Athié concedeu tutela antecipada e permitiu, posteriormente, que dezenas de portuários se beneficiassem da sentença. Os recursos foram julgados por Regueira, que confirmou a decisão. A Caixa Econômica Federal foi obrigada a fazer os depósitos em 24 horas. Os saques chegaram a R$50 milhões.
Beline, nome ligado à maioria dos processos do Espírito Santo sob suspeita, divide o tempo entre os corredores da Justiça e os templos. Evangélico, fundou a própria igreja (Igreja Unidade e Corpo de Cristo) e já foi visto anunciando a fiéis da Igreja Evangélica Batista de Vitória uma doação de cinco templos, cinco casas, um terreno na Praia do Canto, bairro nobre de Vitória, e uma mansão no balneário de Jacaraípe, município de Serra, cujo valor total chegaria a R$6 milhões.
O casamento de seu filho, no ano passado, ocupou a página toda de uma tradicional coluna social capixaba, com fotos que exibiam a suntuosa mansão do advogado e detalhes do banquete oferecido aos convidados.
Há dois anos, Beline sofreu uma fiscalização da Receita Federal que constatou o correspondente a R$2,4 milhões em patrimônio a descoberto.