Título: AmBev pode ampliar participação de mercado
Autor: Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 16/06/2005, Economia, p. 27

Líder já tem 68,2% das vendas com Skol, Brahma e Antarctica. Analistas cogitam alta de preço da Schincariol

A concentração de mercado no setor de cervejas pode ficar ainda maior após a ação contra a Schincariol, e especialistas não descartam aumentos de preços ao consumidor. Para o analista Alexandre Garcia, da corretora Ágora Senior, se confirmadas as acusações contra a empresa de bebidas, isso mostrará que a Schincariol não tem os mesmos custos da líder de mercado AmBev. Pagando os mesmos impostos, os preços das duas não ficariam tão distantes.

Segundo Garcia, cervejarias que não têm o mesmo impacto de custos da líder de mercado podem demorar três meses para elevar seus preços.

Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Cerveja (Sindicerv) mostram a AmBev com 68,2% do mercado nacional de cerveja em abril. A Schincariol é a única concorrente de peso, com 12,5%. A operação levou o banco de investimentos Merrill Lynch a elevar sua estimativa para os papéis da AmBev em Nova York de US$28,75 para US$36. E Garcia diz que a AmBev seria a maior beneficiada com uma eventual condenação da Schincariol, aumentando ainda mais sua participação:

- Se as denúncias se confirmarem, fica mais difícil para a Schincariol manter a participação de mercado que tem hoje. O dia-a-dia da empresa será abalado numa situação como essa.

Outras cervejarias podem estar na mira da PF

De acordo com uma fonte ligada às empresas, a ação da Polícia Federal na Schincariol é apenas a ponta de um iceberg. Segundo a fonte, cervejarias de médio e pequeno porte já estariam sob investigação.

Segundo a mesma fonte, a obrigatoriedade da instalação dos medidores de vazão - aparelhos que indicam quanto de bebida é produzido e envasado nas fábricas - fez parte de um esforço da AmBev para conter a sonegação no mercado. No dia 31 de julho termina o prazo para a verificação e homologação dos medidores. De acordo com o Sindicerv, todas as empresas associadas ao sindicato instalaram o equipamento dentro do prazo, 21 de janeiro deste ano. Do total de 163 envasadoras, 92 já foram verificadas.

Na Schincariol, as fábricas de Itu (SP), Cachoeiras de Macacu (RJ), Igrejinha (RS) e Alexânia (Goiás) já tiveram os aparelhos homologados. Faltam as fábrica de Caxias (MA), Alagoinhas (BA) e Recife (PE).

As informações sobre volumes envasados são coletadas automaticamente e transferidas para a Receita Federal, sem a possibilidade interferência externa.

SONEGAÇÃO VARIADA

LIMINARES: As distribuidoras que trabalhavam em parceria com a Schincariol utilizavam liminares que conseguiam nas justiças estadual e federal elementos legais para o não recolhimento de ICMS e IPI pela cervejaria.

LARANJAS: Normalmente as empresas parceiras da Schincariol eram constituídas em nome de laranjas e também emitiam notas fiscais falsas.

NOTAS FISCAIS: O esquema de sonegação era montado com notas fiscais "viajadas". Mais de uma viagem era feita com a mesma nota.

CAIXA 2: As vendas eram subfaturadas ou sem a emissão de notas fiscais, com recebimento "por fora", ou seja, em espécie, no caixa dois.

TRIANGULAÇÃO: Era usado o artifício da triangulação de notas, a entrega em local diferente do indicado no documento fiscal.

CORRUPÇÃO: Havia a corrupção ativa de agentes públicos para obter facilidades e aparentar legalidade nas operações ao cruzar as fronteiras estaduais.

FRAUDE: Eram utilizadas placas frias de caminhões para combinar com as notas frias.