Título: O PIOR MOMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/06/2005, Economia, p. 25
Segmento amargou em 2003 queda de 17,8% no faturamento real
O setor formal da construção civil amargou uma perda de 17,8% em 2003, ano que representou o fundo do poço para uma indústria que empregava com carteira assinada 1,462 milhão de trabalhadores, número 0,8% menor que em 2002, e faturou R$73,8 bilhões. A Pesquisa Industrial Anual da Construção Civil, divulgada ontem pelo IBGE, mostrou que, em 2003, as 119 mil empresas do setor sofreram com a falta de financiamento habitacional, com o pior nível de investimento público desde 1947 e com o aperto monetário (os juros médios anuais chegaram a 23,4%).
O arrocho fiscal atingiu em cheio a construção. Houve um recuo de 29,5% nas obras contratadas pelo governo. Quando se isola apenas o ramo de infra-estrutura, a participação do governo caiu de 70,6% para 62%, entre 2002 e 2003:
- Vimos que as construções destinadas para o governo foram as que registraram quedas maiores - disse Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.
Parcela com obras de saneamento diminuiu 22,9% em 2003
Mesmo com apenas 68,9% das residências brasileiras com saneamento básico, as obras para esse setor diminuíram sua parcela no total em 22,9%, representando apenas 3,5% do conjunto da construção. Houve recuo também em obras viárias (23,4%) e de barragens e represas para energia elétrica (34,5%), em sua maioria públicas:
- Em 2002, estávamos em período eleitoral, o que sempre aumenta a demanda por obras. Em 2003, esse ciclo se encerrou.
Mas a pesquisa divulgada ontem não é a única a mostrar a decadência do setor. A participação no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas produzidas no país) baixou para 7,2%, o menor nível desde 1991. Quando se olha apenas para o investimento, a parcela da construção de 56,4% é a pior desde 1990, quando a série histórica foi iniciada. O número de trabalhadores no setor, que no PIB inclui os informais, voltou ao nível de 1997, ocupando 3,7 milhões de operários.
Mas, aos poucos, o setor vem sentindo algum alívio. No ano passado, com o reaquecimento da economia e a melhoria no mercado de trabalho, a construção civil se recuperou. Cresceu 5,7%, acima de toda a economia (4,9%).
- Mas já verificamos queda no investimento este ano, a recuperação de 2004 ainda não se confirmou em 2005 - disse Sales.
Armando Castelar, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que a reação aconteceu num nível muito baixo:
- Saímos do pior momento, mas ainda há muito a recuperar.
inclui quadro: um retrato do setor