Título: IRAQUE: IRMÃ DE SEQÜESTRADO COBRA AÇÃO DE LULA
Autor: Cristina Azevedo
Fonte: O Globo, 17/06/2005, O Mundo/Ciencia e Vida, p. 33

Meses após desaparecimento de brasileiro, Isabel reclama da falta de informações e cita exemplo de Chirac

Sentindo-se magoada, e em alguns momentos com a voz embargada, Isabel Vasconcellos Elkhouri - irmã do engenheiro João José Vasconcellos Jr., seqüestrado em 19 de janeiro, no Iraque - cobrou um empenho maior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso e disse que falta vontade ao governo nas tentativas de negociação.

- Tenho uma mágoa muito grande de o presidente não ter pedido publicamente por João. Vimos Jacques Chirac pedir pela vida da jornalista francesa, Silvio Berlusconi falar sobre a jornalista italiana. Aconteceu em todos os países que tiveram cidadãos seqüestrados no Iraque. No Brasil, foi somente o chanceler Celso Amorim - queixou-se, por telefone, de Juiz de fora.

Cinco meses depois do seqüestro e sem saber se o irmão está vivo ou morto, Isabel se queixa principalmente da falta de informações do Itamaraty. Vinte dias após a Cúpula América do Sul-Países Árabes - quando a família do engenheiro enviou uma carta aos governos participantes pedindo ajuda para libertá-lo - ela ligou para o Itamaraty e teria sido informada que o governo não havia pedido uma resposta. No início do mês, ligou de novo e descobriu que o embaixador Affonso Celso de Ouro-Preto, que coordenava as operações de Amã, Jordânia, já havia retornado ao Brasil.

- Ele não havia nos ligado nem para dizer que as tentativas fracassaram. Não acredito que os grupos de busca continuem no Iraque se a pessoa que devia coordenar as tentativas de libertar meu irmão já voltou - reclamou. - Podem até continuar se for pela empresa (a construtora Norberto Odebrecht, onde o engenheiro trabalhava). João é um cidadão brasileiro, é do governo que espero uma resposta.

Isabel conta que ao procurar Ouro-Preto, no dia 7, o embaixador teria respondido que as negociações sobre os seqüestros no Iraque estavam paradas. Mas poucos dias depois a jornalista francesa Florence Aubenas e seu guia foram libertados.

Itamaraty diz que Ouro-Preto voltará a Amã em dias

Para Isabel, o governo deveria ter buscado ajuda maior de países que conseguiram libertar seus cidadãos.

- Florence disse que havia vários reféns no cativeiro. Será que o Brasil já entrou em contato para averiguar? - pergunta. - Falta uma resposta à família do João. Falta lembrar que ele é um cidadão brasileiro.

Isabel conta que principalmente os pais estão muito abalados: o pai se retira da sala se o assunto é o seqüestro e a mãe busca consolo na religião:

- Outro dia, ela me disse: "Só falta me enterrar, porque morta eu já estou."

Em Brasília, o Itamaraty rebateu as críticas, dizendo que o governo tem feito tudo para resolver o problema. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, nos próximos dias o embaixador Ouro-Preto voltará ao Oriente Médio. E na próxima semana os apelos serão reforçados na Conferência Mundial sobre o Iraque, em Genebra, Suíça. O Itamaraty informou que após janeiro foi criado um grupo de monitoramento, foram ampliados os contatos e acionadas as embaixadas na região. Na viagem de Amorim ao Oriente Médio, em fevereiro, apelos foram feitos.

COLABOROU Eliane Oliveira, de Brasília