Título: Dirceu: 'Há movimento articulado contra Lula'
Autor: Ricardo Galhardo, Soraya Aggege e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 18/06/2005, O País, p. 11

Ex-ministro diz a militantes do PT que há plano em curso para impedir a conclusão do mandato e a reeleição do presidente

SÃO PAULO. Em seu primeiro pronunciamento aos companheiros petistas na condição de deputado e militante do partido, o ministro demissionário da Casa Civil, José Dirceu, denunciou ontem na abertura da reunião do Campo Majoritário, a corrente que comanda o PT, que está em curso um "movimento articulado" para tentar impedir o término do governo Lula e evitar que ele se reeleja em 2006. Para impedir que esse movimento avance, Dirceu disse que está disposto a viajar pelo Brasil mobilizando as bases do partido.

- Há um movimento articulado para tentar impedir o término do governo do presidente Lula e interditar a sua reeleição em 2006 - disse Dirceu para os integrantes do Campo Majoritário, sua corrente política no partido, reunidos ontem durante todo o dia num hotel no centro de São Paulo.

Dirceu, que à noite participou de um ato nacional em defesa do PT, não relacionou quem faria parte desse movimento, mas disse que a elite brasileira, insatisfeita com o mandato de Lula, está apavorada com o desempenho do governo, consciente de que, se não interromper sua trajetória, não conseguirá impedir sua reeleição no ano que vem.

- As pessoas precisam saber que está em curso uma disputa pelo poder. Os nossos opositores passaram dos limites - afirmou.

Dirceu: repercussão de denúncias foi exagerada

Dirceu fez uma defesa intransigente do governo Lula e argumentou que a repercussão das acusações de Roberto Jefferson foi exagerada.

Usando o velho tom de capitão do partido, Dirceu pediu serenidade aos dirigentes, a maior parte deles reunida no Campo Majoritário. Logo que chegou à reunião, antes mesmo de iniciar seu discurso, Dirceu avisou a dirigentes, em tom descontraído:

- Estou pronto para a guerra, pessoal!

Para amigos, ele teria afirmado que está se sentindo aliviado por sair do governo e muito disposto a atuar na Câmara. Mesmo fora do Ministério, Dirceu deverá ser o responsável pela articulação política do governo, segundo revelaram dirigentes mais próximos a ele ontem. O novo desenho ministerial prevê a extinção da pasta da Coordenação Política, hoje ocupada por Aldo Rebelo.

- Pelas conversas que tive com o presidente nos últimos dias, as tarefas políticas ficarão mais na Câmara e no Senado e o próprio Dirceu terá um papel muito importante no Congresso - afirmou Marco Aurélio Garcia, assessor especial do partido para assuntos internacionais, que participou ontem da reunião do Campo Majoritário, ao lado de José Dirceu.

Segundo Paulo Ferreira, da executiva do partido, Dirceu apenas mudou de cargo, mas continua importante e com poderes no governo.

- O ministro Dirceu alterou sua posição política para fazer um novo enfrentamento na Câmara. Como ele mesmo falou ontem, deslocou-se para atuar na defesa do governo e do PT. No discurso que fez para nós ele foi mais modesto e disse apenas que auxiliará os líderes do governo na Câmara e no Senado.

A operação faz parte da estratégia do presidente Lula de reforçar a presença do governo no Congresso. Além de Dirceu, outros ministros podem deixar os cargos e voltar para a Câmara. A volta de Dirceu animou muitos dirigentes do Campo Majoritário.

- Ele falou como nosso velho e bom comandante - contou um dirigente da corrente.

Dirigentes: Dirceu combaterá o "paloccismo"

Para a esquerda, a volta de Dirceu também levou ânimo novo. Muitos acreditam que o ex-ministro possa se tornar um forte aliado interno contra o "paloccismo", como é chamada a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Dirceu vinha fazendo críticas à política econômica.

- Eu espero que o Zé Dirceu, como parlamentar e militante do PT, junte-se a nós contra essa política econômica - disse Valter Pomar, terceiro-vice presidente do PT e candidato à sucessão de José Genoino pela corrente de esquerda Articulação.

* Especial para O Globo

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Esquerdas e centro do PT vão pedir mudanças

Radicais querem discutir demissão de Jucá e Meirelles

SÃO PAULO. As esquerdas e o centro do PT vão aproveitar o momento de fragilidade do governo para reivindicar hoje, na reunião do diretório nacional, mudanças nos rumos da condução da economia e da política. Em vez de polemizar sobre a permanência ou não do secretário-geral Sílvio Pereira e do tesoureiro Delúbio Soares, os grupos querem discutir as demissões de Romero Jucá (ministro da Previdência Social) e Henrique Meirelles (presidente do Banco Central) envolvidos em denúncias de corrupção.

Sílvio procurou as tendências do PT para evitar que a reunião de hoje peça seu afastamento e de Delúbio. Ontem, ele não participou da maior parte da reunião do Campo Majoritário, grupo do qual faz parte, para que seus colegas ficassem à vontade para discutir seu destino.

Sílvio tenta convencer centro e esquerda do PT

Com o apoio do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o Campo Majoritário, principal corrente política do PT, decidiu que Sílvio e Delúbio devem ser mantidos. A decisão, no entanto, pode ser posta em xeque hoje. Ontem, Sílvio tentou convencer as correntes de esquerda e de centro a não pedirem seu afastamento e o de Delúbio.

- Sílvio Pereira está falando com as outras correntes porque a nossa idéia é de transmitir amanhã (hoje) um conceito de unidade partidária. Na prática, é o seguinte: não tem bóias para salvar A, B ou C. Afunda todo mundo junto- admitiu Paulo Ferreira, dirigente nacional do partido pelo Campo Majoritário.

Já o presidente do PT, José Genoino, argumentou que o afastamento dos dois dirigentes não poderá ser feito pelo diretório nacional:

- Esse assunto não tem fatos novos que justifiquem deliberação do diretório nacional. A direção do partido vai tratar dessa questão provavelmente amanhã.

Dirceu também foi favorável à manutenção de Sílvio e de Delúbio na direção do partido.

*Especial para O GLOBO

Legenda da foto: JOSÉ DIRCEU, ao lado de Genoino, no ato promovido em defesa do PT