Título: FISCAIS LIBERTAM 1.200 AGRICULTORES EM MT
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 18/06/2005, O País, p. 15

Colonos trabalhavam em condições precárias em lavoura de cana e destilaria; empresa já havia sido notificada

BRASÍLIA. Numa operação conjunta do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho, fiscais libertaram cerca de 1.200 agricultores que trabalhavam em condições precárias na Fazenda Gameleira, no município de Confresa, em Mato Grosso. Segundo o Ministério Público do Trabalho, existem indícios de que o grupo estaria sendo submetido a trabalho escravo em uma lavoura de cana-de-açúcar de uma destilaria.

As terras pertencem a Eduardo Queiroz Monteiro, irmão do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o deputado Armando Queiroz Monteiro (PTB-PE).

Operação foi realizada na quarta-feira

A operação foi realizada na quarta-feira e divulgada ontem. Há duas semanas, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), telefonou para o Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis para perguntar o motivo de suas afiliadas terem cancelado contratos com a destilaria Gameleira, localizada na fazenda de Eduardo Monteiro.

Nos últimos dez anos, a empresa já havia recebido três notificações por submeter seus empregados a condições de trabalho precárias. A Gameleira chegou a figurar na chamada "lista suja" divulgada pelo Ministério do Trabalho. O documento informa os nomes de pessoas físicas e jurídicas que foram flagradas explorando trabalho escravo. No entanto, uma liminar garantiu a retirada da empresa desta lista.

Eduardo Monteiro deverá ser obrigado a pagar os direitos trabalhistas negados aos empregados durante o período em que as irregularidades ocorreram. O procurador do trabalho Antônio Carlos Cavalcante Rodrigues, que atuou nas investigações, informou ontem que o Ministério Público do Trabalho já ingressou com um conjunto de ações na Justiça para garantir o pagamento das verbas rescisórias e fornecer aos trabalhadores as passagens de volta aos seus estados de origem.

Os trabalhadores foram aliciados em Pernambuco, Maranhão e Alagoas com promessas de bons salários e benefícios. De acordo com Rodrigues, trabalhavam na fazenda 850 trabalhadores no corte de cana-de-açúcar e mais 400 na usina de processamento do álcool.

Alimentação era precária e descontada do salário

As condições na fazenda, segundo os fiscais, eram degradantes, com alimentação precária descontada do salário e falta de água potável. Os trabalhadores estavam alojados em barracas, sem as mínimas condições de higiene, o que teria causado dores de cabeça e diarréias. Além disso, o excesso de poeira pode ter provocado problemas respiratórios nos trabalhadores.

- As péssimas condições de higiene, aliadas às de saneamento, provocam constantes doenças nos trabalhadores, que também precisam pagar pelos remédios - relatou o procurador.