Título: Duas secretárias e nenhum segredo
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 19/06/2005, O País, p. 4

BRASÍLIA. Em julho de 2002, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza quis expandir seus negócios, mas enfrentava problemas com o Fisco. Pediu que a secretária de um de seus sócios na agência SMP&B abrisse uma empresa em seu nome. Adriana Fantini fundou então a 2S Participações Ltda., que em setembro do mesmo ano foi transferida ao publicitário e à sua mulher, Renilda Fernandes de Souza. Dois anos mais tarde, em 2004, Adriana voltou a prestar um favor a Valério ao informar-lhe que a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio estava tentando chantageá-lo. Adriana é a principal testemunha no processo por tentativa de extorsão que o publicitário move contra Karina na Justiça de Minas.

Na semana passada, Fernanda Karina apareceu na revista "IstoÉ Dinheiro" confirmando parte das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mesadas a parlamentares. Um dia depois de a revista ter chegado às bancas, a ex-secretária depôs na Polícia Federal e desmentiu as partes mais comprometedoras da entrevista, dizendo que não tinha nada contra o ex-patrão. À Justiça, Karina afirmou que nunca pediu dinheiro ao publicitário, nem tentou prejudicá-lo.

O processo movido contra Karina na Justiça contém documentos que podem reforçar a denúncia de Valério, de que a ex-secretária tentou de fato, extorqui-lo. Mas, a documentação também oferece indícios de que a ex-secretária poderia ter servido de laranja para o publicitário. É isso que ela sugere num dos bilhetes que deixou para Marcos Valério na sede da DNA.

"Descobri que conseguiram entrar com a minha senha no meu banco e viram o meu saldo, etc. Acho que você deveria saber. Qualquer dúvida me liga que eu te explico melhor, ok. Obrigada", diz o bilhete de Karina a Marcos Valério.

Alguns meses depois de ser demitida da SMP&B e receber, além dos direitos trabalhistas, R$5 mil por "serviços prestados", segundo declarou à Justiça, Karina resolveu procurar o publicitário com a história de que estaria sendo assediada para revelar informações sigilosas e comprometedoras sobre ele e a SMP&B. Karina procurou Valério na DNA Propaganda e como não o encontrou, deixou bilhetes, usados no processo contra ela.

Karina teria telefonado para Adriana várias vezes, na mesma ocasião, e Adriana resolveu denunciar a ex-colega para o chefe. Ela declarou à Justiça que, logo depois da saída de Karina da SMP&B, sumiu da empresa uma caderneta de anotações e insinuou que a ex-secretária poderia ter levado outros documentos. Já Karina disse em seu depoimento à PF e à Justiça que Adriana era sua amiga e que por isso se falavam por telefone freqüentemente.

Karina deve depor em agosto no processo que corre na 6ª Vara Criminal de Belo Horizonte e depois da entrevista à "IstoÉ Dinheiro" não quer mais falar com a imprensa. O advogado de Karina disse que a imprensa não está entende o que está acontecendo.