Título: CPI dos Correios terá o PTB entre seus alvos
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 19/06/2005, O País, p. 12

BRASÍLIA. Trincheira de onde partiram os disparos que provocaram a crise vivida pelo governo Lula na semana passada, o PTB do deputado Roberto Jefferson (RJ) deve se tornar um dos principais alvos da CPI dos Correios. Ao investigar os 600 contratos sob suspeita feitos pela estatal, os auditores que assessoram a comissão deverão procurar empresas que participaram de licitações nos Correios e possam ter contribuído de alguma forma com as campanhas eleitorais do PTB.

- Se do Correio foi dinheiro para o PTB, vamos investigar - confirmou o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Serão verificados se os preços correspondem aos de mercado e quais as ligações dessas empresas com partidos políticos.

Na sexta-feira, a comissão recebeu o inquérito da Polícia Federal sobre o caso dos Correios. O trabalho da PF até agora foi identificar os autores da gravação na qual o ex-chefe de Contratações e Administração Maurício Marinho recebe R$3 mil e diz trabalhar para um esquema que arrecada recursos para o PTB, coordenado por Jefferson. A partir de agora, a CPI e a própria PF devem trabalhar para encontrar as supostas fraudes nas licitações. Este pode ser um dos elos com o esquema de financiamento de campanhas eleitorais.

Interessados em desgastar o governo, os 13 parlamentares da oposição na CPI acertaram na quinta-feira adotar uma estratégia mais dócil no começo dos trabalhos - limitando a investigação aos Correios - até que seja aprovado o requerimento para a convocação de Jefferson e do publicitário Marcos Valério, ligado às agências mineiras DNA e SMP&B, que prestam serviços ao governo.

Conexão Delúbio-Valério

Com base no depoimento de Jefferson, a oposição pretende ampliar a investigação para as denúncias feitas pelo petebista de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, por intermédio do publicitário mineiro, pagaria a deputados aliados do PP e do PL mesada de R$30 mil.

Valério pode ser também uma porta para que os parlamentares comecem a investigar o mensalão. Entre suas agências, acusadas de serem a fonte de recursos do esquema, uma presta serviços aos Correios. Portanto, cairia o argumento usado pelos governistas de que a investigação fugiria do escopo da CPI.

- A única coisa que não vamos aceitar é que isso se transforme numa perseguição a fulano ou beltrano. Partido A ou B. Vamos investigar todos os atores. Se tivermos um suspeito de pagar, vamos investigar a todos a quem ele pagou - afirma o vice-líder do PSDB na Câmara, Eduardo Paes, que faz parte da CPI.

Na terça-feira, Marinho já deve ser perguntado sobre o destino dos recursos que ele afirmou desviar. Estopim da crise que começou no PTB e se alastrou pelo governo e Congresso, Marinho vai ser o primeiro envolvido no caso a ser ouvido. Um dia antes, o presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), pretende reunir os líderes para discutir os requerimentos que serão votados na comissão. Ele acha que logo depois de Marinho precisam ser ouvidos o ex-diretor dos Correios Antonio Osório, integrante da executiva nacional do PTB, e os envolvidos na gravação da fita.

- Com esses depoimentos, vamos ter um quadro mais claro do que acontecia nos Correios - afirma Delcídio.

Segundo ele, paralelamente, serão aprovados os requerimentos dos contratos das diferentes áreas da estatal. O dono da Novadata, Mauro Dutra, que ganhou licitações dos Correios na área de informática, também deve ser chamado para depor.

As quebras de sigilos bancários, telefônicos e fiscais só devem ser apreciadas depois do início dos depoimentos. Assessores da comissão vão recomendar a quebra de sigilo do empresário Artur Washesk, dono da Coman, que admitiu ter mandado gravar Marinho.

Proteção aos petistas

Embora tenham mostrado na eleição do senador Delcídio Amaral para a presidência da comissão, por 17 votos a 15, que a maioria governista é frágil na CPI, os parlamentares do governo pretendem impedir a convocação de José Dirceu; do presidente do PT, José Genoino; do secretário-geral do partido, Sílvio Pereira; e do tesoureiro, Delúbio Soares, para depor. Eles foram acusados por Jefferson de atuar no esquema de pagamentos a deputados.

O argumento usado para rejeitar os pedidos é de que a CPI não tem atribuição para investigar o caso. Os requerimentos já feitos para investigar operações do IRB - onde o ex-presidente Lídio Duarte revelou ter sido pressionado para arrecadar dinheiro para o PTB - não devem receber apoio dos governistas. Mas os tucanos apostam em revelações:

- Dependendo dos fatos, não vai dar para tapar o sol com a peneira - disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

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