Título: INVESTIGADORES FORA DE SINTONIA NOS CORREIOS
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Fonte: O Globo, 19/06/2005, O País, p. 13

BRASÍLIA. Os três delegados da Polícia Federal e quatro procuradores da República encarregados de investigar as fraudes nos Correios são da mesma faixa etária - todos têm menos de 35 anos - sabem da importância da missão, mas não estão afinados na apuração do caso. Na última semana, as divergências táticas entre os dois grupos se mostraram evidentes em diversas situações.

Procuradores e delegados tinham opinião diferente sobre a prorrogação da prisão do capitão José Santos Fortuna Neves (libertado quinta-feira), suspeito de ter participado da gravação que detonou o escândalo, e sobre buscas a uma empresa, em Belém. A repetição de alguns interrogatórios também expôs uma aparente desarticulação entre os investigadores.

- Nem todas as ações estão 100% (afinadas). Mas faço um balanço positivo destes 30 dias de investigação - afirmou o procurador da República Bruno Acioli.

Para ele, as diferenças de método entre a PF e o Ministério Público são naturais e não chegam a comprometer o resultado. Diferenças táticas à parte, delegados e procuradores - quase todos em início de carreira, mas já com experiências em casos como Banestado, GTech, Marka e FonteCindam, entre outros - estão fechados no propósito de esclarecer o mais cedo possível o suposto esquema de fraudes de afilhados do PTB. As irregularidades foram apontadas numa conversa do ex-chefe do departamento de Contratação dos Correios Maurício Marinho com dois arapongas disfarçados de empresários.

- Temos que aprofundar as investigações sobre os contratos, para mapear a movimentação do dinheiro nessas transações - disse o delegado Luís Flávio Zampronha aos colegas Luiz Gustavo Góes e Cláudio Ribeiro, que também investigam o caso.

A tarefa não é fácil. Um dos maiores obstáculos para os investigadores é a quebra do sigilo bancário do PTB ou de parlamentares ligados ao partido que, pela relato de Marinho, seriam os destinatários finais da arrecadação proveniente das fraudes. O acesso às contas depende de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).