Título: Atingido pela crise, PT não será mais o mesmo
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 19/06/2005, O País, p. 17

SÃO PAULO. O PT nunca mais será o mesmo. Atingido em cheio pelas acusações de corrupção, mesmo que consiga provar inocência, o partido vai demorar para se reerguer, admitem os candidatos que concorrem ao Processo de Eleição Direta (PED). Mesmo se renovar sua direção, hoje do Campo Majoritário, será um longo processo de reconstrução interna.

- Não existe uma solução mágica. Depois de tudo isso, para nos recompormos realmente, será necessário um longo processo - afirma o terceiro vice-presidente do PT, Valter Pomar, que concorre à sucessão de José Genoino pela corrente Articulação de Esquerda.

Dirigentes erraram nas táticas de aliança política

O terremoto que atinge o PT internamente não é causado por suspeitas de que membros da direção nacional teriam feito negociatas. Pelo menos nenhuma corrente política admite as suspeitas de corrupção. Segundo vários dirigentes, o problema foi que ficou evidenciado um erro grave de tática, principalmente na política de alianças traçada pelo Campo Majoritário de Genoino e de José Dirceu. Hoje o próprio Campo, que sempre foi coeso, está dividido.

- As críticas seguem no seguinte sentido: os dirigentes não teriam se corrompido, mas errado nas táticas de alianças políticas e também na defesa de uma política econômica ortodoxa como a do ministro Antonio Palocci (Fazenda), que também é do Campo Majoritário - explica um dirigente petista.

Para as correntes de esquerda, como a de Pomar, o PT precisa retomar a ofensiva rapidamente e também o seu projeto original de governo.

- Para isso é preciso mudar a direção do partido. De imediato, queremos fortalecer a atual direção, evitando oportunismos - avalia Pomar.

Petista histórico e independente, o advogado Plínio de Arruda Sampaio, candidato apoiado pela Ação Popular Socialista (APS), é mais radical:

- Proponho uma medida extrema: o PT deve chamar um encontro nacional extraordinário para decidir se a atual direção deve ou não ser mantida. Não creio que as bases do PT ainda queiram a atual direção.

A proposta de Plínio, que é ligado aos movimentos populares, da Igreja Católica e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), não encontrou apoio em outras correntes, embora tenha respaldo do artigo 107 do estatuto petista. O encontro nacional representa o topo da hierarquia no PT. O poder de decisão do encontro é superior ao diretório nacional, que se sobrepõe à executiva nacional.

Plínio defende a medida extrema para modificar a política de alianças e econômica do governo rapidamente. O Campo Majoritário tem cerca de 52% do poder interno e pode repetir a mesma proporção na eleição interna, em setembro.

- Também não acredito em corrupção dentro do PT. Mas a direção atual cometeu dois erros muitos graves com as duas políticas e precisa sair para oxigenar o partido - diz Plínio.

A deputada Maria do Rosário (RS), candidata à presidência pelo Movimento PT, corrente de centro que já foi aliada do Campo Majoritário, também concorda que o partido levará tempo para se recobrar da surra que tem levado com as denúncias.

- Não podemos ficar surfando sobre as dificuldades. Temos que mobilizar nossas bases. São 820 mil filiados que sempre andaram de cabeça erguida neste país e agora estão se sentindo traídos - avalia a deputada.

Segundo Maria do Rosário, que chegou a defender as renúncias do tesoureiro Delúbio Soares e do secretário-geral, Sílvio Pereira, os adversários do PT mentem sobre as suspeitas de corrupção:

- Eles mentem, mas mesmo que consigamos recuperar a verdade e até mudar muitas coisas, já nos atingiram politicamente. E logo na honra, nosso maior patrimônio.

Raul Pont: "A base do partido quer a renovação"

Da esquerda moderada, o candidato Raul Pont, da Democracia Socialista, avalia que a direção do PT precisa ser renovada, como forma de recuperar antigos valores do partido:

- Mudanças nas alianças política e na economia. Basta isso para o PT sair da crise. A base do partido quer a renovação, não dá mais para manter a política da atual direção.

Já o candidato da corrente majoritária e atual presidente, José Genoino, tem afirmado que a crise não atingiu as estruturas do partido. Para ele, o incêndio que será controlado dentro de mais duas semanas. A volta de Dirceu para a Câmara e a promessa de que ele ficará à frente das decisões deram um novo ânimo a Genoino. Dirceu foi o presidente eleito em 2001 e Genoino arrasta um ano extra de mandato. Na realidade, o mandato venceu no final do ano passado, mas graças a acertos internos, as eleições só acontecem em setembro próximo, com posse em dezembro.

O QUE DIZEM OS CANDIDATOS À SUCESSÃO PETISTA

"Não acredito em corrupção dentro do PT. Mas a direção cometeu erros e precisa sair para oxigenar"

PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO

Candidato apoiado pela Ação Popular Socialista (APS)

"São 820 mil filiados que sempre andaram de cabeça erguida neste país e agora estão se sentindo traídos"

MARIA DO ROSÁRIO

Candidata pelo Movimento PT

"O PT está tranqüilo, mas indignado, porque se cria uma onda de prejulgamento de acusações mentirosas"

JOSE GENOINO

Atual presidente do PT

"O governo não pode continuar fatiando verbas para parlamentares. Não dá para manter isso"

RAUL PONT

Candidato da Democracia Socialista