Título: SUPERÁVIT LEVA PAÍS A MUDAR SUA ARGUMENTAÇÃO
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 19/06/2005, Economia, p. 31
BRASÍLIA E BUENOS AIRES. Desta vez, o Brasil não poderá mais usar o comércio como vantagem maior da integração em defesa do Mercosul. Ao contrário, a partir do momento em que a balança comercial brasileira passou a apresentar sucessivos superávits, que ficaram mais evidentes desde o início do ano passado, o tema chega a ser tabu, quando os interlocutores são, principalmente, argentinos e paraguaios.
Mais uma vez, as divergências entre os dois maiores sócios do Mercosul serão visíveis no encontro de presidentes. O exemplo mais marcante é a insistência dos argentinos em aprovar um mecanismo de salvaguardas temporárias para proteger suas indústrias das importações de produtos brasileiros. O assunto não foi posto na agenda oficial, mas o presidente Néstor Kirchner deve tentar emplacá-lo na reunião.
Uma saída favorável ao fortalecimento do Mercosul para os negociadores brasileiros, segundo um influente embaixador, será usar os investimentos do Brasil nos países do bloco. Nas conversas serão citados, entre outros exemplos, os da Petrobras, da Camargo Corrêa e da AmBev, que aplicam recursos em projetos diferenciados.
Mercosul perdeu 1º semestre em discussões comerciais
Na visão de importantes negociadores da Argentina, o Mercosul desperdiçou o primeiro semestre de 2005 tentando resolver conflitos comerciais. As diversas disputas entre os governos Lula e Kirchner, envolvendo os setores de calçados, têxteis, eletrodomésticos, vinhos, automóveis, arroz, entre outros, paralisaram as negociações entre os quatro sócios, admitem essas fontes.
- Foi um semestre perdido - reconhece uma fonte da chancelaria argentina.
Na reunião entre Lula e Kirchner, em maio passado, ambos decidiram rever todos os protocolos assinados desde 1985, ano em que os ex-presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín deram sinal verde aos primeiros acordos de integração. Assim, serão analisados 23 protocolos, que poderão ser reduzidos a 15 ou 20 acordos.