Título: MODERADO ENFRENTA CONSERVADOR EM 2º TURNO DAS ELEIÇÕES
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 19/06/2005, O Mundo, p. 35
TEERÃ. Pela primeira vez desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã terá segundo turno numa eleição presidencial. Akbar Hashemi Rafsanjani, o clérigo reformista favorito das pesquisas de opinião, disputará a segunda rodada de votação com o ex-prefeito de Teerã, Mahmoud Ahmadinejad, adepto da linha-dura. De acordo com dados oficiais divulgados na manhã de ontem, um dia após a votação, Rafsanjani, que foi presidente do Irã (1989 e 1997), obteve cerca de 20,8% dos votos. Ahmadinejad teve 19,3%. O clérigo moderado Mehdi Karroubi, que chegou a ficar em segundo lugar durante a apuração, obteve 18,86%. Karroubi denunciou ontem que ultraconservadores partidários de Ahmadinejad cometeram fraudes nas eleições.
- Houve interferências. Vi dinheiro passar de mão em mão - afirmou ele, que foi presidente do Parlamento iraniano.
Líder supremo parabeniza iranianos e reage a críticas dos EUA
Nenhum dos sete candidatos na disputa conseguiu os 50% de votos necessários para ser eleito, afirmou um porta-voz do Ministério do Interior. Um representante do Conselho de Guardiães, instituição clerical que supervisiona a votação, afirmou que o segundo turno será realizado na próxima sexta-feira, dia 24.
De acordo com o Ministério do Interior, cerca de 62% do eleitorado (aproximadamente 32 milhões de pessoas) participou das eleições - apesar de boicotes convocados por grupos reformistas que se opõem ao regime islâmico.
As autoridades de Teerã esperavam que um alto índice de comparecimento às urnas amenizasse as críticas estrangeiras sobre a legitimidade das eleições presidenciais.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, parabenizou a população pela votação e rechaçou as críticas do governo dos EUA, que acusava o pleito de ser injusto.
- Com sua sábia participação nas eleições, vocês outra vez anunciaram sua forte vontade de serem independentes, defenderem os valores islâmicos e terem uma democracia islâmica - afirmou ele.
Khamenei acrescentou que os iranianos foram às urnas porque "experimentaram a diferença que seus votos fizeram" durante os oito anos de mandato do presidente reformista Mohammad Khatami, que deixará o poder agora.
- Isso significa que a democracia não é mais um produto importado, e agora tem uma identidade iraniana - afirmou.
Khatami, por sua vez, descreveu o pleito como "totalmente saudável" e disse que o resultado não mudará as reformas que iniciou.