Título: 'AGORA É O MOMENTO DE AJUDAR O PAÍS'
Autor: Paulo Skaf
Fonte: O Globo, 18/06/2005, Economia, p. 28

Fiesp forma grupo para proteger economia da crise, propondo ações ao governo

Temendo o contágio da crise política na economia, os pesos-pesados do Produto Interno Bruto (PIB), reunidos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), formaram um grupo para acompanhar a situação. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, apresentou ao governo sugestões para reduzir o déficit nominal, via corte de gastos, na próxima década. E se dispôs a participar de uma força-tarefa para recadastrar aposentados e reduzir o déficit da Previdência.

O grupo de empresários formado na Fiesp seria uma espécie de blindagem do governo em meio à crise?

PAULO SKAF: É preciso entender definitivamente que eu não tenho e nunca tive vínculo partidário. A Fiesp, da mesma forma, tem total independência, o que nos permite, num momento como este, estar atentos ao desenrolar dos fatos, visando ao bem do Brasil. Então, juntamos 25 empresários das principais cadeias produtivas, para promover uma permanente troca de idéias e ações para que o país não pare.

A Fiesp só vai ficar observando os acontecimentos?

SKAF: Temos duas vertentes. Na área política, nossa visão é: todas as denúncias, todas as dúvidas devem ser apuradas pelas autoridades competentes, seja Polícia, Justiça, Ministério Público ou CPI. A única coisa que defendemos é que, independentemente das apurações e punições, temos de resguardar as instituições. Na área política, estamos dispostos a lutar para defender as instituições, os poderes constituídos.

E a outra vertente?

SKAF: Vamos tentar fazer com que, enquanto essa confusão persistir, sejam tocados os projetos de interesse do país. Há necessidade de ter uma agenda positiva, no Congresso e na economia. Tenho conversado com Renan Calheiros (presidente do Senado) e Severino Cavalcanti (presidente da Câmara). Agora é o momento de a economia e a sociedade organizada ajudarem o país, senão vamos ficar um ano falando de denúncias.

O que precisaria mudar neste primeiro momento?

SKAF: Em relação ao econômico, é momento de reduzir os juros, mas também de tocarmos na ferida chamada gasto público. O gasto com juros é efeito, o câmbio é efeito, carga tributária é efeito, informalidade é efeito.

O que pode ser feito?

SKAF: Estamos colaborando com o Ministério da Fazenda. Temos um cronograma para cortar gastos ao longo dos próximos dez anos. Este é um caminho a ser perseguido. Mas é preciso vontade política. As pessoas dizem "Ah, o Orçamento é engessado". Tem que desvincular, trabalhar para mudar a lei. Temos independência para propor isso.

Mas como cortar gastos concretamente, além de desvincular o Orçamento?

SKAF: Parece pequeno, mas precisamos recadastrar a Previdência Social. São 23 milhões de aposentados. Nós sabemos que há indícios fortes de que, se houver um recadastramento, vai aparecer muita coisa errada. Podemos programar um grande projeto envolvendo estudantes, indústria, Exército. Tenho conversado com o governo sobre isso, estamos desenvolvendo um projeto nessa direção. É hora de enfrentar o problema para valer.

O senhor acredita que a manutenção dos juros em 19,75% seja um indício de virada?

SKAF: Eles poderiam ter baixado. Temos que fazer com que os juros entrem em ritmo de baixa, que despenquem, para o câmbio reagir e dar maior competitividade aos nossos produtos. Mas para isso, volto a dizer, é preciso reduzir os gastos.

Ainda há tempo de salvar o crescimento este ano?

SKAF: Temos de acordar porque estamos perdendo uma janela de oportunidades. No primeiro trimestre deste ano, crescemos 1,21%, e a China, 9,1%. O semestre foi sacrificado, agora temos de tentar salvar o ano: fazer os juros caírem, o governo tomar medidas fortes, mudar lei dentro do Congresso.

A MP do Bem, recém-anunciada, pode ajudar?

SKAF: Não atrapalha, mas é uma ajuda discreta, isolada. Estou falando de uma coisa muito forte e muito grande.